A história do município de Amaraji como é ensinada, aprendida e divulgada através de gerações e recentemente, na mídia, especialmente na web, começou a partir da criação de uma feira livre autorizada pelo conselho municipal de Vila de Escada em 23 de julho de 1868. As primeiras informações escritas da história do município de Amaraji estão no Diccionário Chorográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, obra do pesquisador Sebastião de Vasconcelos Galvão, publicada entre 1908 e 1927. O Governo de Pernambuco, em 2006, publicou uma edição fac-similar com o título de: Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco. Na escola primária nós aprendemos a história tal qual Sebastião de Vasconcelos escreveu em seu livro.
Mas, o que havia antes da feira livre? Quem foram os signatários daquele documento que solicitou o alvará para funcionamento daquela feira? Quais teriam sido os verdadeiros interesses dos senhores de engenhos e outros moradores do 4º Distrito da Paz naquele evento que, pouco mais de duas décadas depois, resultaria na evolução da dependência administrativa do povoado para vila, cidade e município emancipado?
Para se entender melhor a história do município, faz-se necessário conhecer um pouco das origens e desenvolvimento da vila e freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Escada, sob cuja dependência, esteve o distrito de Amaraji, até sua emancipação política no dia 31 de dezembro de 1892.
A área onde se localiza o atual município de Escada era, originariamente, uma aldeia indígena sob a proteção das autoridades portuguesas no final do século XVII. A região começou a ser ocupada por brasileiros de ascendência européia no início do século XVIII. Em 1861, a aldeia era considerada oficialmente “a mais rica da Província” de Pernambuco, em virtude da reconhecida fertilidade do solo, em uma região com matas virgens e irrigadas por rios e numerosos riachos. Essa riqueza natural permitia uma vida economicamente estável aos aldeados, onde a maior parte deles possuía “casa de telhas e lavouras. O território tornou-se paróquia em 1786, conquistando seu próprio governo local e a condição de vila em 1854. Naquele mesmo ano, foi instalado o primeiro Conselho Municipal da vila, tomando posse os seguintes conselheiros:
Presidente: Antonio Marques de Holanda Cavalcanti, capitão da Guarda Nacional, proprietário dos engenhos Mameluco, Barra, Fortaleza, Taquara, Diamante e parte do sítio Cavalo Podre, ocupando terrenos na Vila da Escada.
Secretário: Thomaz Rodrigues Pereira, ocupando terrenos na Vila da Escada; respondia também, pela Secretaria e Tesouraria da Aldeia da Escada.
Simão de Azevedo Campos - Vigário paroquial da Igreja Matriz Católica de Escada, ocupando terrenos na Vila.
Manoel da Rocha Lins, tenente da Guarda Nacional, membro da família Lins que, possuíam cerca de 30 engenhos em Escada.
André Dias de Araújo, capitão da Guarda Nacional, Diretor-parcial da Aldeia da Escada, proprietário do Engenho Noruega.
Candido José Lopes de Miranda, major da Guarda Nacional.
José Sancho Bezerra Cavalcanti - dono dos Engenhos Alegria, Criméia, ocupando terrenos na Vila da Escada.
Em 1868 os índios foram definitivamente removidos e em 1873 a vila passou a cidade e teve nomeados seus juízes. Em 1893 Escada tornou-se município independente, diretamente subordinado ao governo do estado.
Manoel da Costa Honorato em seu Dicionário Topográfico, Estatístico e Histórico da Província de Pernambuco, publicado em 1863, descreve assim, a vila:
“Escada, termo, município, freguesia e vila, situada à margem esquerda do rio Ipojuca, 42 léguas ao sudoeste de Recife e nove da cidade de Vitória.
É muito antiga e limitava-se ao norte com a freguesia do Cabo, pelo rio Pirapama e engenhos Ilha da Liberdade, Massauassu, Santa Cruz, Noruega, São Mateus, Arandu, Conceição Nova, e com a freguesia de Ipojuca, pelos mesmos engenhos Arandu e São Mateus, e pelos engenhos Pirauíra e Três Braças; a leste com a freguesia de Ipojuca, pelos engenhos Ilha da Liberdade, Giqui, Terras dos Índios, Três Braças; ao sul com a freguesia de Sirinhaém, pelos engenhos Vicente Campelo, Aripibu, Lages, Águas Claras, Caxangá, Prado e Amaragi de Baixo; a oeste com a freguesia de Santo Antão, pelos engenhos Matapiruma de Baixo, Jundiá-Mirim, Dois Rios, Serra do Urubu e Sete Ranchos. Foi elevada à categoria de vila pela lei provincial nº 326 de 19 de abril de 1954, que criou nela um município. Finalmente a lei nº 482 de 10 de maio de 1960 deu-lhe o rio Sibiró por limite entre os termos de Escada e Serinhaém. A sua matriz é dedicada a Nossa Senhora da Escada, e além desta há 10 capelas filiais, inclusive as dos engenhos.
Está o seu território dividido em 4 distritos de paz, e a vila é a sede do município do seu nome, comarca de Santo Antão. Como termo independente tem um juiz municipal, um escrivão que acumula os exercícios do crime, cível e provedoria e tabelião de notas; um dito dos órfãos; um dito do júri e acusações criminais; um partidor e contador, e um partidor e distribuidor; um juiz comissário de terras públicas; um diretor do aldeamento de índios; um coletor geral e seu escrivão, em cuja coletoria no exercício de 1860 a 61 arrecadou-se 4:888$454 rs. E faltou arrecadar-se 148$000 rs; tem um comissário vacinador. Tem um delegado e subdelegado de polícia; uma cadeira de instrução primária do sexo masculino, um delegado e três comissários literários.
Nesta vila, cujo clima é saudável e cujo terreno é produtivo, existe uma estação da via férrea, aberta ao serviço público em 1862, e no território da freguesia conta-se 111 engenhos de fabricar açúcar. A sua população livre é estimada em 23.240 almas. Dá 44 eleitores e pertence ao 3º círculo eleitoral da província”.
Os quatro distritos da paz citados pelo autor são atualmente: a cidade de Escada, a vila de Frexeiras, o distrito de Aripibu e a cidade de Amaraji.