quinta-feira, 27 de outubro de 2011

6 - A história da Borboleta que Dançou de Mestra

Vamos dar um descanso ao barão e à aristocracia e falar sobre uma menina que nasceu lá na província. Talentosa, inteligente, sabia cantar e dançar e era o personagem perfeito para fazer parte de um pastoril, apresentação do folclore brasileiro, muito popular nas festas de final do ano nas décadas passadas. Cada paróquia organizava o seu. E as torcidas se organizavam e gritavam, quase com histeria, os nomes de suas cores preferidas, azul ou encarnado, enquanto as pastorinhas cantavam, dançavam e tocavam seus pandeiros de forma sincronizada.
Mas esta garota de que vamos falar, não apareceu somente no pastoril. Vale a pena começar a contar suas peripécias desde o nascimento.
Ela começou a se destacar nos testes para participar do pastoril, entretanto, apesar do talento e da voz afinadíssima, era de estatura muito pequena e as organizadoras do evento, na época, dona Sônia Dantas, Salete Moraes e Dasdores Teixeira achavam que o personagem perfeito para ela, seria o da “borboleta”. E, quando lhe comunicaram o fato, ela arregalou os olhos, apontou o dedo para as senhoras, olhou em volta e falou num tom firme e decidido, quase gritando: “nada disso, borboleta coisa nenhuma, se eu não for a mestra, não danço”. E sem esperar resposta, apanhou o pequeno chale de lã e caminhou em direção à saída do salão paroquial. As senhoras entreolharam-se e ficaram sem saber o que dizer. E agora, será que a menina iria mesmo ser a mestra, ficar dando pulinhos e balançando as asinhas em volta das outras pastoras. A gente vai saber acompanhando os capítulos da história. Divirtam-se. Eu estou me divertindo. O primeiro capítulo está no final da página.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

5 - Dr. Plínio Alves de Araújo - Prefeitos de Amaraji (1)

Plínio Alves de Araújo nasceu no dia 23 de dezembro de 1893 no engenho Amaraji d´Água. Era filho de Antônio Alves de Araújo, o “Cadete” e Maria Salomé de Araújo. Seus irmãos eram Ivo, Célia, Áurea, Helena e Antônio Filho e seus avós paternos, Antônio Alves da Silva e Antônia Alves de Araújo, barão e baronesa de Amaraji.
Viveu toda a sua infância no engenho com seus irmãos, além de conviver com vários primos de engenhos vizinhos. Até a idade de 10 anos desfrutou também da presença de sua avó baronesa que viveu até o ano de 1903 e que dividia o tempo, juntamente com seus familiares, entre a casa grande do engenho e sua residência da Rua Sete de Setembro em Recife.
Os engenhos bangüês daquela época proporcionavam inúmeras distrações para os filhos dos senhores de engenho. Datas religiosas e sociais eram comemoradas com muito entusiasmo pelas pessoas da época. Além do que, seu avô, o barão, costuma oferecer recepções e promover encontros aos senhores de engenhos vizinhos, vários dos quais seus parentes, bem como a convidados de Recife, que se deslocavam da capital para o engenho. Seu pai que havia se diplomado em direito pela Faculdade do Recife, juntamente com sua avó, a baronesa, preservaram o costume de manter o mesmo estilo de vida social do barão.
O jovem Plínio aprendeu as primeiras letras no próprio engenho. Na época, os filhos dos proprietários como alguns filhos de trabalhadores freqüentavam a escola existente na propriedade que era mantida pelo senhor de engenho. Sua primeira professora foi dona Maria Paes Barreto, da qual ele sempre guardou boas recordações. Algum tempo depois ela foi substituída pelo ex-seminarista Joaquim Manoel dos Santos.          
Em 1907, deu prosseguimento a seus estudos na cidade de Carpina, na época chamada de Floresta dos Leões, juntamente com seu irmão Ivo Araújo e alguns primos. Lá ele estudou no Colégio Chateaubriand, que tinha como educador o francês Dr. Charles Koury. Naquela instituição fez o curso preparatório e permaneceu no colégio por dois anos. De acordo com seu pensamento, naquele período, as mudanças e transição abriam as portas para uma psicologia pronta para encarar a vida de uma forma mais madura.
Em 1910, aos 17 anos, partiu para São Paulo a fim de freqüentar o curso superior de agronomia na reconhecida Escola de Piracicaba. Fez o exame de admissão e foi aprovado. Cursou aquela instituição até o terceiro ano. Atendendo uma solicitação de Antônio Paulino, amigo de seu pai e diretor da Escola Superior de Ciências Agrícolas de Recife – ESAP retornou a Pernambuco e matriculando-se naquela instituição de ensino superior, a fim de concluir o último ano do curso. Ele e mais seis estudantes fizeram parte da primeira turma de agrônomos da ESAP. Por solicitação de seus colegas de curso, foi designado orador da turma. Seu discurso foi brilhante, surpreendendo os convidados e autoridades presentes, inclusive o Governador do Estado na época, general Emídio Dantas Barreto. Em dezembro do mesmo ano, foi nomeado pelo governo, para o cargo de inspetor federal agrícola do estado. Esta foi sua primeira função pública. Paralelo a isso, exerceu também o cargo de delegado do Serviço Federal do Algodão em Sergipe e no Rio Grande do Norte. Durante seis anos foi funcionário do Ministério da Agricultura. Após afastar-se de suas atividades no ministério, continuou exercendo suas atividades de agrônomo, e prestando e prestando assistência a empresas particulares até 1931.
Nesse período, retorna para Amaraji para foi exercer suas atividades de agricultor no engenho Beija-Flor, recebido de herança da família. No dia 15 de agosto 1936 iniciou sua vida política, quando foi nomeado prefeito de Amaraji pelo então interventor federal no estado de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti, natural de Amaraji. Ficou à frente da prefeitura até 27 de julho de 1937, quando João Florentino de Melo assumiu a prefeitura como prefeito eleito. Foi nomeado novamente para o cargo de prefeito em 16 de maio de 1938 pelo interventor federal Agamenon Sérgio do Godoy Magalhães. Governou o município durante todo o período do “Estado Novo” instituído pelo presidente Getúlio Dornelas Vargas, até 22 de novembro de 1945. No dia 21 de fevereiro de 1946, através do ato nº 513, foi designado pelo interventor federal no estado, José Domingues da Silva, para dirigir o Departamento de Assistência às Cooperativas – DAC, órgão ligado à Secretaria de Indústria e Comércio do estado. Permaneceu naquele órgão durante as gestões dos interventores estaduais Demerval Peixoto e Amaro Gomes Pedrosa. Após esse período regressou ao engenho Beija-Flor para dar continuidade às atividades agrícolas e prestar maior assistência à sua propriedade. Em 1959, retornou mais uma vez à política. Candidatou-se e venceu a campanha para prefeito de Amaraji, governando o município durante quatro anos.
Nos três períodos em que esteve à frente do executivo municipal, manteve sempre como prioridade, a educação e a saúde pública. Num de seus mandatos foi implantado, no município, o primeiro serviço médico e dentário, incluindo um posto de saúde na cidade. Posteriormente foi fundada uma casa de partos, na qual as mulheres que davam à luz permaneciam em repouso, recebendo a assistência médica necessária e o recém-nascido era presenteado com um enxoval e uma certidão de nascimento. Foi criado também o serviço dentário escolar, com profissionais altamente capacitados, que possibilitavam às crianças um tratamento dentário bastante eficiente.     
Foi casado com Frederica Faneca de Araújo com quem teve quatro filhos: Mirca, Déa, Célia e Plínio Filho. Este enlace durou vários anos, não se sabem exatamente quantos. Ao término este casamento, ocorreu uma união com Joana Ferreira de Araújo, relação esta que deu origem a mais quatro filhos: Marcos, Jânio, Maria do Socorro e Célia. Posteriormente, o casal adotou uma menina, filha de um sobrinho de Joana Ferreira, chamada Évelyn Gleice. Plínio Araújo viveu até o fim de seus dias ao lado de Joana Ferreira.
No dia 2 de abril de 1985, com 91 anos de idade, Plínio Alves de Araújo veio a falecer em decorrência de problemas cardíacos.
Amaraji prestou várias homenagens a um de seus filhos mais ilustres. A Câmara Municipal passou a chamar-se Casa Plínio Alves de Araújo. Na Rua 15 de Novembro foi inaugurado um Centro Social com o seu nome e, no assentamento do engenho Riachão do Norte, o mesmo nome foi dado à escola municipal da comunidade.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

4 - Antônio Alves de Araújo "Antônio Cadete"


No dia 27 de janeiro de 1869, no Engenho Raiz de Fora, nascia Antônio Alves de Araújo, filho de Antônio Alves da Silva e Antônia Alves de Araújo, barão e baronesa de Amaraji. Diplomou-se em direito pela Faculdade de Recife e fez parte da geração acadêmica que muito trabalhou para a abolição da escravatura e pela propaganda da república. Também era membro da Guarda Nacional, com a graduação de tenente-coronel comandante do 30ª batalhão de infantaria de Amaraji.
Toda sua existência foi devotada à atividade rural. Ainda estudante de direito, assumiu a direção das atividades agrícolas do engenho Amaraji juntamente com a sua mãe, a baronesa de Amaraji, que havia enviuvado. Recebeu do imperador Pedro II a patente de "Cadete" em virtude de haver doado, juntamente com seu pai, a quantia de vinte mil réis para a guerra do Paraguai.  Como agricultor, foi um dos expoentes de sua classe, sempre trabalhando para o desenvolvimento e progresso da lavoura e criação de gado. Fez parte da Sociedade Auxiliadora da Agricultura, a mais antiga associação agrícola do Brasil, sendo por um período eleito seu presidente. Como representante da lavoura canavieira do estado, tomou parte na comissão que foi ao Rio de Janeiro em 1908 representar Pernambuco no Congresso Agrícola Brasileiro.
Foi casado com Maria Salomé, filha de Joaquim Correia de Oliveira, deixando os seguintes filhos: Plínio Alves de Araújo, engenheiro agrônomo; Ivo Alves de Araújo; Célia Alves de Araújo; Áurea Alves de Araújo; Helena Alves de Araújo Antônio Alves de Araújo Filho. Faleceu no ano de 1958 e seus restos mortais estão depositados no jazigo da família na capela do engenho Amaraji.
Em 1976 o Governo do Estado construiu uma escola de 1º grau em Amaraji e deu ao novo estabelecimento de ensino o nome de Antônio Alves de Araújo.

domingo, 23 de outubro de 2011

3 - O Barão de Amaraji (2)

Certa vez, chegou ao conhecimento do barão que um lavrador vizinho, conhecido por seu temperamento desapontador, havia concedido carta de liberdade a duas filhas pequenas de uma estimada mucama da casa grande. Isso era coisa muito comum na época, mas de se espantar nesse caso, por se tratar do senhor de engenho vizinho, conhecido por sua avareza.
A benesse, entretanto, durou pouco. Com a morte da mucama anos depois, ele tornou sem efeito as prerrogativas das duas cartas de liberdade, trazendo de volta à escravidão as duas pequenas libertas. Sabendo do sucedido, o barão de Amaraji, contratou um advogado. Dr. Feitosa, para fazer a defesa das menores já alforriadas. Essa questão, baseada no art. 179 do antigo Código Criminal, levou tempo e custou uma boa soma. A ação chegou à Suprema Corte que deliberou reconhecer o direito das menores, libertando-as. O barão custeou todas as despesas, até a viagem e estadia do advogado no Rio de Janeiro, que foi acompanhar e defender a apelação.
Durante a guerra do Paraguai, no auge da luta, com os cofres da nação ficando vazios, pelos gastos excessivos do imperador Pedro I e a negligência de seu filho Pedro II, o barão fez uma doação, como contribuição de guerra, de vinte contos de reis. Como retribuição, o imperador concedeu a patente de “cadete” ao seu filho mais velho, Antônio Alves de Araújo.
Seu prestígio na região era muito grande. Uma de suas filhas, Maria José Alves de Araújo, casou com Antônio Epaminondas de Barros Correia, o barão de Contendas. A outra, Davina Alves de Araújo, com Dr. José Domingues da Silva, jurista formado pela faculdade de direito de Recife e proprietário do engenho Raiz de Fora.
No livro “História de uma Fotografia”, Gileno de Carli conta que o barão fez uma viagem a Portugal com a baronesa e o filho Antônio Alves, ainda pequeno. Quando se preparavam para regressar ao Brasil, o barão morreu. A esposa, que não queria deixar o corpo do marido enterrado numa terra estranha, tentou trazer o corpo embalsamado de navio, mas a legislação da época proibia o embarque de cadáveres, mesmo no formol. Então ela teve a idéia de trazer o caixão acondicionado numa caixa de piano. O plano deu certo. No desembarque em Recife, quando a “caixa do piano” ia sendo içada numa rede do navio para o barco que a levaria ao cais, o pequeno cadete grita: “Cuidado com meu pai!”, momento em que a baronesa vira-se pra ele e repreende: “Cala a boca, menino!” E assim o corpo chegou a Pernambuco e foi sepultado na capela do engenho Amaraji. O barão morreu no dia 12 de julho de 1873.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

2 - O Barão de Amaraji


Antônio Alves da Silva nasceu no dia 29 de maio de 1807. Era filho de Manoel Alves da Silva, senhor de engenho de Amaraji d´Água. Casou-se com Antônia Alves de Araújo, nascida em 1836, irmã do comendador José Pereira se Araújo. O casal teve seis filhos: Davina, Maria José, Francisca, Flora, Antônio e Júlio.
Antônio Alves era bem diferente de seu pai. Mesmo não tendo formação acadêmica, era bem mais requintado e urbano, dividindo seu tempo entre a casa do engenho Amaraji e o palacete da Rua Sete de Setembro, em Recife. Foi ele quem construiu a casa grande que existe até hoje existe na propriedade. A anterior, seguia o mesmo padrão dos casarões tradicionais dos séculos XVIII e XIX. Pensando na formação dos filhos e sobrinhos, teve o cuidado de trazer um padre de Portugal para educá-los. O religioso ocupava o melhor quarto da casa e dava aulas aos “ioiôs” e “iaiás” da família, segundo conta Manoel Lubambo. Ele também organizava muitas procissões, missas dominicais, novenas, rosários, etc. Aos sábados, dava aula de catecismo aos escravos, os quais também participavam ativamente de todos os atos religiosos.
O futuro barão tinha amigos de todas as classes sociais e a casa do engenho Amaraji era conhecida pelas festas que ele proporcionava. Os convidados eram os senhores de engenhos vizinhos, muitos seus aparentados, artistas, nobres e os amigos que moravam em Recife, entre eles, o comendador Manoel Figueiroa de Faria, proprietário do Diário de Pernambuco.
Antônio Alves da Silva foi agraciado com o título de Barão de Amaraji, pelo Decreto imperial de 29 de dezembro de 1867.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

1 - Os Descobridores de Amaraji


No início do século XIX, Manoel Alves da Silva, um português de Trás-os-Montes, antiga província de Portugal, chegou a Pernambuco acompanhado de seus familiares. Estabeleceu-se no engenho Aripibu, em Escada, na qualidade de rendeiro. Ali, ele se dedicou ao cultivo da cana e criação de gado. Conseguiu economizar muitas moedas de ouro para comprar, à vista, uma grande área, coberta de matas virgens, cortada pelo rio Amaraji, no Quarto Distrito da Paz da freguesia de Nossa Senhora da Escada. Naquela imensa área, foi fundado o engenho Amaraji e dele, desmembrados, os engenhos Autonomista, Garra, Tapuia e Raiz de Fora, todos da família.
Naquela época, além do cultivo da cana-de-açúcar, da mandioca e da banana, outra atividade da região era a exploração da madeira. As árvores  eram cortadas e as toras lançadas no rio Amaraji que se encarregava de transportá-las com suas águas caudalosas. Seguiam pelo rio Sirinhaém e chegavam até o mar.
Em 1837, o português Manoel Alves da Silva já havia construído no engenho, uma pequena e rústica capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Lá, existia também uma casa de farinha.  Com muita garra, autoridade, tenacidade, o trabalho de dezenas de escravos e a produção do engenho bangüê, ele teve sua fortuna aumentada. Era um homem rústico, comparado por um pesquisador a um "boi-cambão". Seu programa de administração era: DEUS, ESCRAVIDÃO, TRABALHO E TRONCO. Deixou uma grande fortuna para seus descendentes.
Manoel Alves da Silva foi pai de vários filhos, entre eles, Antônio Alves da Silva, o Barão de Amaraji.