domingo, 23 de outubro de 2011

3 - O Barão de Amaraji (2)

Certa vez, chegou ao conhecimento do barão que um lavrador vizinho, conhecido por seu temperamento desapontador, havia concedido carta de liberdade a duas filhas pequenas de uma estimada mucama da casa grande. Isso era coisa muito comum na época, mas de se espantar nesse caso, por se tratar do senhor de engenho vizinho, conhecido por sua avareza.
A benesse, entretanto, durou pouco. Com a morte da mucama anos depois, ele tornou sem efeito as prerrogativas das duas cartas de liberdade, trazendo de volta à escravidão as duas pequenas libertas. Sabendo do sucedido, o barão de Amaraji, contratou um advogado. Dr. Feitosa, para fazer a defesa das menores já alforriadas. Essa questão, baseada no art. 179 do antigo Código Criminal, levou tempo e custou uma boa soma. A ação chegou à Suprema Corte que deliberou reconhecer o direito das menores, libertando-as. O barão custeou todas as despesas, até a viagem e estadia do advogado no Rio de Janeiro, que foi acompanhar e defender a apelação.
Durante a guerra do Paraguai, no auge da luta, com os cofres da nação ficando vazios, pelos gastos excessivos do imperador Pedro I e a negligência de seu filho Pedro II, o barão fez uma doação, como contribuição de guerra, de vinte contos de reis. Como retribuição, o imperador concedeu a patente de “cadete” ao seu filho mais velho, Antônio Alves de Araújo.
Seu prestígio na região era muito grande. Uma de suas filhas, Maria José Alves de Araújo, casou com Antônio Epaminondas de Barros Correia, o barão de Contendas. A outra, Davina Alves de Araújo, com Dr. José Domingues da Silva, jurista formado pela faculdade de direito de Recife e proprietário do engenho Raiz de Fora.
No livro “História de uma Fotografia”, Gileno de Carli conta que o barão fez uma viagem a Portugal com a baronesa e o filho Antônio Alves, ainda pequeno. Quando se preparavam para regressar ao Brasil, o barão morreu. A esposa, que não queria deixar o corpo do marido enterrado numa terra estranha, tentou trazer o corpo embalsamado de navio, mas a legislação da época proibia o embarque de cadáveres, mesmo no formol. Então ela teve a idéia de trazer o caixão acondicionado numa caixa de piano. O plano deu certo. No desembarque em Recife, quando a “caixa do piano” ia sendo içada numa rede do navio para o barco que a levaria ao cais, o pequeno cadete grita: “Cuidado com meu pai!”, momento em que a baronesa vira-se pra ele e repreende: “Cala a boca, menino!” E assim o corpo chegou a Pernambuco e foi sepultado na capela do engenho Amaraji. O barão morreu no dia 12 de julho de 1873.

Um comentário:

  1. O pessoal do Grupo: Na Rota de Antigos Casarões esteve no Engenho Amaraji e fez um video. Foi dia 31 de outubro e estão editando. No instagram: https://www.instagram.com/narotadosantigoscasaroes/
    No Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCElsacdBb3EIxs0Oa-_btpg

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