segunda-feira, 4 de junho de 2012

Personagens Populares de Amaraji

“SEU CATOTA”

José Severino dos Santos Bento Milagroso Humberto Rufano mora nesta cidade. É figura conhecida pela sua versatilidade de serviços, que poderiam ser chamados de “utilidade pública”. Trabalha no campo, caça, pesca, conserta sombrinhas, bota água, raspa mandioca na casa de farinha, etc. e tem um apelido que ele mesmo faz questão de ser chamado: “Catota”.
Com um jeito engraçado de falar, ele explica o seu nome e apelido, “Nasci nos idos de 16, numa noite de lua cheia, do mês de março. Minha mãe me botou esse nome, José Severino dos Santos, por ser o do meu pai. Bento Milagroso, por causa do santo do dia, trazido na folhinha do almanaque, e Humberto Rufano, também por outra folhinha, que uma amiga da família trouxe. E deu esse nome todo. Quando ao apelido, veio do meu pai. Ele era baixinho, e todos o chamavam de Catota. Quando nasci me apelidaram logo de Catotinha. Fui crescendo e herdei o apelido do velho. Não me incomodo com o nome. É tradição de família.
Catota nunca aprendeu a ler. Quando menino, o seu pai comprou uma carta de ABC. Na mesma época, sua mãe adoeceu e morreu. Ele, desgostoso, colocou a cartilha no fundo de uma mala e esqueceu. Anos depois foi procurar e as baratas tinham roído tudo. “Hoje em dia – diz ele – me arrependo. Só conheço o A, porque parece com um cambito. O “O” lembra o fundo de uma xícara, e vai por aí.
As pessoas mais chegadas (aproximadas) lêem os jornais para ele. As novidades como a conquista espacial, vida humana em tudo de ensaio, divórcio, anticoncepcionais, guerras, deixam Catota preocupado. Ele se resume a dizer: “Tá tudo virado no mundo”.
“Nunca me casei, mas tenho cinco filhos e não sei por onde eles andam”. E continua: “Minha mulher fugiu com outro homem, depois ela largou ele. Também não sei onde está”. A partir daí, Catota não arranjou mulher nenhuma. Quer dizer, para viver junto. Nem namorar ele quis porque “a sua mulher lhe botou sal na moleira”, quer dizer, deu-lhe uma lição.
A sua saúde é boa. Só esteve doente uma vez e “do forgo” (asma). Ficou bom graças a Deus, em primeiro lugar, e ao Dr. Victor, um médico boliviano que morou em Amaraji.
Esse negócio de aposentadoria é moleza. A Bíblia diz que o homem deve trabalhar e ganhar o pão com o suor de seu rosto. Ele acrescenta, e ao talento do braço. Catota está muito satisfeito com a vida que leva. Todos em Amaraji gostam dele. No dia em que foi entrevistado pelo DP, chovia muito, e ele confessou que ia passar a noite na praça, porque na sua casa, ou tapera, como diz ele, estava com goteiras e a chuva molhava tudo. Ficando na praça, tinha chance de se abrigar no coreto ou em uma casa qualquer. A minha tapera é boa em noite de lua. Fico espiando as estrelas deitado na minha cama.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO – 30 de maio de 1974
(Arquivos da Jornalista Aline Cavalcanti)


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