terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Vigários de Amaraji - Pe. Geraldo Leite Bastos

Padre Geraldo Leite Bastos nasceu em Moreno, Pernambuco, a 12 de dezembro de 1934. Era filho de Aloísio Tenório do Rego Bastos e Izabel Leite Bastos. Estudou no Seminário de Olinda, no Seminário da Várzea, vindo a terminar sua formação presbiteral no Seminário de Salvador na Bahia. Foi ordenado presbítero da Arquidiocese de Olinda e Recife a oito de dezembro de 1961, na época do Arcebispo Dom Carlos Coelho.
Fundou a Paróquia de Nossa Senhora do Bom Conselho em Ponte dos Carvalhos e foi seu pároco de 1962 a 1980. Padre Geraldo Leite chegou a Ponte dos Carvalhos logo após ser ordenado, já no começo de 1962, tornando-se o primeiro pároco da localidade. À época, a Igreja Matriz funcionava em local improvisado, na mesma área onde poucos anos depois ele construiu a atual sede, com a ajuda dos fiéis. No distrito, então um povoado habitado principalmente por pescadores, pequenos agricultores e operários, padre Geraldo estimulou a organização popular e a luta por melhores condições de vida. Sob sua liderança, fiéis construíram moradias em regime de mutirão que até hoje são habitadas, nas vilas Esperança e Nação do Divino.
A sua opção pelos pobres e oprimidos que expressava também através da música, poesia, do teatro e da pintura o fez estimular a encenação da Paixão de Cristo a partir de texto crítico no qual Jesus, na descida da cruz, explica as suas chagas como sendo resultado do seu compromisso com as lutas do povo. “Tudo isso inspirado no evangelho”, segundo Reginaldo Veloso, um dos organizadores da homenagem.
Foi um grande pregador do cristianismo no Cabo de Santo Agostinho. Até hoje continua inesquecível na lembrança das pessoas. Um amigo de todos e uma pessoa carismática, que deixou sua marca e luta em Pontezinha e Ponte dos Carvalhos. Criador, junto com a comunidade de Ponte dos Carvalho, da Paixão de Cristo da Ponte, que permanece até hoje, com um espetáculo diferenciado das demais, por possuir um texto crítico e reflexivo aos dias de hoje, junto à história tradicional de Jesus Cristo.
A revista Veja na edição de 18 de setembro de 1968 publicou a reportagem “Novas Crenças na Igreja” onde o trabalho de Padre Geraldo assim foi citado:
SABÃO E ENCANTO - Para a mesa de Deus, altar da missa na igreja de Ponte dos Carvalhos, na paróquia pernambucana do Cabo, os fiéis trazem pão, vinho, velas, flores, sabão e goma para as toalhas. Sobre a mesa do Padre Geraldo Leite Bastos depositam comida e roupa lavada. Sobre a mesa do povo, dinheiro para quem precisar. Sanfoneiros acompanham a missa. Conta o Padre Bastos: "O Evangelho é explicado por um dos irmãos e debatido com todos da assembleia. No fim da missa, antes da bênção, os irmãos dão notícias de aniversários, falecimentos, visitas".
Em 1975, foi nomeado o primeiro administrador paroquial da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Morro da Conceição, mas manteve o trabalho em Ponte dos Carvalhos. Três anos depois foi a vez de a comunidade católica do município de Escada conhecer e vivenciar sua ação pastoral.
Três anos depois foi a vez da comunidade católica do município de Escada conhecer e vivenciar sua ação pastoral. Foi o quarto pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação da Escada onde ficou de 1980 a 1987. O Padre Geraldo foi um dos pioneiros das comunidades eclesiais de base, Igreja que surge em meio dos empobrecidos e com grande participação popular em nosso país. Como pároco da cidade de Escada escreveu e idealizou a encenação da Via Sacra pública. O Padre Geraldo foi autor de inúmeras letras de Salmos e Hinos e escritor de diversas músicas próprias para a celebração da padroeira da Escada, como: “O Pedido e Ofertório da Terra”.
De 17 de setembro de 1893 a 29 de janeiro de 1984, Padre Geraldo Leite deu assistência à paróquia de Amaraji na qualidade de vigário substituto no intervalo entre a saída do Padre Francisco de Assis Rocha e a chegada do Padre Joel Salgado Amorim. Apesar do curto espaço de tempo que permaneceu na cidade, continua sendo lembrado com muito carinho pelos paroquianos pela maneira envolvente e participativa com que celebrava as atividades religiosas na igreja.
Um dos promotores pioneiros mais criativos e de uma liturgia enraizada na cultura popular em termos de arquitetura, pintura, vitral, alfaias, coreografia, teatro, ritual e música; além de compor várias melodias religiosas para os pobres da região. Todo o repertório musical do padre Geraldo pode ser considerado um referencial indispensável para aqueles que se propuserem servir ao povo de Deus. Sua ação pastoral- litúrgica se estendeu as outras Igrejas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste; como as Dioceses de Santarém e Belém, no Pará; Bacabal e São Luís, no Maranhão; Guabiraba, na Paraíba, e Goiás Velha em Goiás.
Teve eminente participação na elaboração do Hinário Litúrgico da CNBB e no Oficio Divino Popular. Marcou presença significativa no intercâmbio internacional entre Igrejas, pessoalmente e junto a paroquianos envolvidos em suas Igrejas, como nas Dioceses de Freiburg na Alemanha e Nápoles na Itália, bem como da Comunidade de Taizé na França.
Todo o repertório musical do padre Geraldo pode ser considerado um referencial indispensável para todos aqueles que se propõem a servir ao povo de Deus. Além disso, o padre tinha o dom de envolver o máximo de pessoas nas atividades paroquiais tanto na preparação como nas celebrações litúrgicas como a Quinta-Feira Santa, Sexta-Feira Santa e Páscoa.
Foi sempre admirado pelo seu trabalho e dedicação, mas em 19 de abril de 1987, no domingo da Ressurreição, o padre Geraldo Leite Bastos faleceu, completando sua bonita missão.
 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Primeira Igreja de Amaraji - Frei Venâncio de Ferrara

No dia 19 de janeiro de 1879 o missionário capuchinho, frei Venâncio Maria de Ferrara, chegou ao povoado de São José da Boa Esperança para realizar as Santas Missões, Pregou durante 22 dias e fez uma campanha e um grande mutirão com os moradores da vila para construção de uma igreja. Conseguiu deixar pronto o alicerce, já com paredes na altura de receber os andaimes, para continuar a construção do novo templo, no local onde hoje existe a atual matriz. Depois de sua saída, os moradores concluíram a obra. No dia 24 de dezembro de 1883 a nova matriz foi sagrada e inaugurada pelo missionário capuchinho Frei João de Gangi.
Esta igreja foi reformada na década de 1930, sendo inaugurada com as características atuais em 1937.
Anteriormente, havia no povoado de São José da Boa Esperança uma pequena capela, idealizada pelo major José Pereira de Araújo e ela estava localizada na área do atual fórum municipal. Segundo a tradição, nasceu um pé de gravatá no telhado da capela. A planta foi crescendo e se avolumando de tal forma que um dia o teto desabou com peso.
Frei Venâncio Maria de Ferrara nasceu na Itália no dia 11 de setembro de 1822. Foi ordenado sacerdote em 1845, pelo cardeal bispo de Ímola, que depois foi sagrado papa com o nome de Pio IX. Ele vestiu o hábito de capuchinho no dia 22 de outubro de 1849.
Demonstrando publicamente seu amor e inclinação para a vida claustral e desejando consagrar-se à evangelização, solicitou e foi atendido pelos superiores de sua ordem. Em 1853 veio para o Brasil, dirigindo-se direto para o Rio de Janeiro onde logo lhe surgiu a oportunidade de exercer, de modo o mais edificante, a piedade e abnegação sacerdotais. A cidade do Rio foi invadida pelo cólera morbus e ele, expondo em risco a própria vida, foi solícito e incansável em ajudar os que haviam sido atingidos pela epidemia, levando-lhes o conforto da fé para que eles atravessassem vitoriosamente a crise ameaçadora, ou sofressem com resignação o golpe fatal. Dominado o flagelo, estregou-se Frei Venâncio, com exemplar fervor, às tarefas habituais da vida religiosa, tornando-se ao mesmo tempo o mais valioso auxiliar do inesquecível Frei Caetano de Messina, então comissário dos capuchinhos no Brasil, na obra que este empreendera na reconstrução da igreja do Morro do Cavalo e edificação do contíguo hospício.
Reservou-lhe, porém, a providência, um campo mais vasto à atividade apostólica e uma ordem superior o levou, em 1870, ao nordeste do país a cinco extensas províncias (Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará) e durante dezesseis anos pregou o evangelho da fé cristã. 
Frei Venâncio, entre os melhores serviços, deixou como atestado de sua inteligente atividade o belo templo da basílica da Penha, em Recife, levantado desde os seus alicerces até a cúpula majestosa.
A primeira capela dedicada a Nossa Senhora da Penha foi construída pelos capuchinhos franceses em 1656. Depois da perseguição de Pombal, vieram os capuchinhos italianos em 1710. Esses reformaram a capela anterior, que assim permaneceu até 1870.
No domingo seis de novembro de 1870, foi assentada a pedra da nova igreja, de modo solene, às 5:30 da tarde foi celebrada uma missa pelo vigário capitular e havendo uma numerosíssima assistência. Frei Venâncio pregou um tocante sermão relativo ao objetivo da festa. A primeira pá de argamassa e a primeira martelada couberam ao presidente da província, Dr. Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque. No dia sete de janeiro de 1872, frei Venâncio tomou posse da prefeitura do convento onde ficou até o final da construção da igreja. No dia 22 de janeiro de 1882, teve lugar a sagração oficial do tempo, numa solenidade presidida pelo bispo Dom Antônio de Alvarenga. A igreja, porém, não estava toda pronta ainda, faltavam alguns altares. Em 1890 a obra estava totalmente concluída.
Monumento de arte e de fé, como se fosse a corporização de seu generoso e santo apostolado, e representa a grandeza e a elevação com que ele compreendeu e serviu o culto divino e o progresso humano.
 
Em 1889 foi nomeado prefeito da Bahia, província onde, por conta de seu trabalho missionário, percorreu quase todo o sertão. Nas muitas paróquias dessa arquidiocese em que pregou missões, frutificaram a sua palavra e o seu exemplo e ainda é lembrado sempre com reconhecimento, assim como a caridade paternal que dispensava a todos, sem asperezas contra as faltas dos ignorantes e, benévolo sem fraqueza, com os desviados. Uma época ele pregou quarenta e três missões em diversas freguesias do litoral e do interior da Bahia, deixando em cada uma, o marco de sua passagem: uma igreja, uma capela, um cemitério ou um açude.
Vida tão edificante não poderia deixar de merecer as bênçãos do céu e ele as recebeu visivelmente. Em 1890, teve a felicidade de completar cinquenta anos de vida religiosa e, mais tarde, a 28 de setembro de 1895, a festejada comemoração de seu jubileu sacerdotal. Bênção do céu a seu servo fiel foi também a felicidade com que ele, octogenário e enfermo, vencendo reais e graves perigos, pudesse realizar, no ano de 1902, uma viagem a Roma para satisfazer o voto filial de saudar, antes de sua morte, ao ínclito pontífice Leão XIII.
O frade era muito estimado na Bahia e nas outras regiões do nordeste. Sua vida religiosa foi sempre cheia de notáveis de caridade e amor, e a sua palavra foi sempre conselheira e amiga. Na própria moléstia que o prendeu ao leito, frei Venâncio não perdeu a paciência e a fé. Resignado a todos os sofrimentos, ele permanecia no leito segurando o crucifixo e rezando.
 
Frei Venâncio de Ferrara, prefeito da ordem dos capuchinhos, faleceu no dia 26 de novembro de 1906 em sua cela, no hospício de Nossa Senhora da Penha na Bahia.