Extraído
do Diccionario Chorographico, Histórico e Geographico de Pernambuco de
Sebastião de Vasconcelos Galvão, publicado pela Imprensa Nacional no Rio de
Janeiro entre 1908 e 1928. (Transcrição literal)
Amaragy – Villa – Séde do mun. do mesmo
nome e da freg. De S. José da Boa-Esperança.
Historia – Teve principio sua fundação em
1868, dando origem a mesma, principalmente, á creação de uma pequena feira
alli, para commodidade dos lavradores dos engenhos próximos, de alguns senhores
de engenhos, e mesmo de outras pessoas das cricumvisinhaças. Nisto, augmentando
o movimento da feira, surgiram alli alguns estabelecimentos commerciaes e após
elles, pouco a pouco outras habitações. Formou-se o depressa um núcleo, fez-se
a povoação, e continuou a desenvolver-se sempre com prosperidade. E, chamada ao
principio Cambão Torto, com a
edificação de uma capella, votada a S. José da Boa-Esperança, os próprios
habitantes do logar accordaram em denomina-lo S. José da Boa-Esperança. A Lei Provincial n. 1831, de 28 de junho
de 1884, desmembrado terrenos da freguezia da Escada, creou nelles uma
parochia, com a denominação de capella, dando-lhe como sede essa povoação; mas
eclesianticamente não teve logo sancção tal creação e continuou, como dantes, a
ser considerada freguezia de N.S. da Apresentação da Escada, com a direcção do
vigário desta. Em 1889, a Lei Provincial n. 2137, de 9 de novembro, deu-lhe a
categoria de villa, ainda com a denominação adoptada, sendo aquella lei
executada por força do Decreto do Gov. do Estado de 24 de setembro de 1890, o
qual mudou o nome para Amaragy, designação
proveniente de ser a povoação á margem do rio do mesmo nome. Posteriormente, o
Decreto de 22 de novembro do mesmo anno considerou os povoados de Cortez e
Pedra Branca pertencentes ao mun. de Amaragy, os quais eram, o 1º do mun. do
Bonito e ultimo, do mun. da Victoria. Em 11 de outubro de 1890 realisou-se a
inauguração do mun., que era termo reunido ao da Escada. Em 30 de setembro de
1892 foi feita a eleição que escolheu seus primeiros representantes, os quais
foram: Prefeito – Francisco da Rocha Pontual, Sub-Prefeito – José Barbosa da
Silva Nunes. Concelho Municipal, membros – Etelmino de Almeida Bastos, Dr.
Davino Pontual, Commendador José Pereira D´Araujo e Manoel Brayner. De accôrdo
com a Lei n. 52 de 3 de agosto de 1892, constituiu-se município autonomo, em 1
de janeiro de 1893. Teve provimento canônico, por acto do diocesano D. Luiz
Raymundo da Silva Britto, ficando desligada da freguezia da Escada, em maio de
1904.
Posição astronômica – Esta a 8º e 26’
de Lat. S e a 7º e 47’ de Long. or. do Rio de Janeiro.
Dimensões do território – Sua extensão
territorial é de 48 klms. quadrados.
Aspecto – O terreno é geralmente
accidentado, cheio de mattas densas, de regatos e riachos perennes, correm para
o rio Ipojuca, para o Amaragy e para o Serinhãem.
Clima e salubridade – A clima é ameno
e sadio, e a temperatura agradavel, principalmente nos mezes de agosto a
dezembro. No inverno, porem, ás vezes, apparecem casos de febre intermittentes,
sendo, ordinariamente, os acommetidos, aquelles que se banham com imprudência e
sem o menor cuidado, nos rios do mun., cujas aguas são muito frias, em geral.
Limites
– Confina: ao norte, com os muns. da Victoria e Gravatá; ao nascente com o da
Escada; ao sul com o de Gamelleira e ao poente com o do Bonito. A linha divisoria
que assignala os limites com os muns. acima, é a seguinte: com o do Bonito, no
povoado Cortez, á marg. Esq. do rio Serinhãem, subindo por elle á barra do
riacho Sangue e dahi, em linha recta, á serra dos Côcos, á casa de José
Mumbuca; do mun. de Gravatá dirige-se a Pedra Redonda, na estrada de Amora,
acima da casa de Joaquim Alves e desse ponto, na mesma direcção, até a beira do
rio Amaragy, no marco das terras de Frexeiras; desse logar segue em linha recta
ao engenho Bom-Conselho á marg. dir. do rio Ipojuca (mun. da Victoria) e por
elle desce até a usina Cabeça de Negro (linha divisoria com o mun. da Escada),
donde sempre respeitando os terrenos de Frexeiras, vai até a mar. dir. da linha
férrea do S. Francisco, subindo a chegar em Aripibu (cujos terrenos fazem a
divisão com o mun. de Gamelleira), servindo sempre de limites com o mesmo mun.
os engenhos Repouso, Caheté, Bamburral, Raiz de Fora, Raiz de Dentro, Raiz
Nova, Refrigerio e a propriedade Laranjeiras a encontrar o engenho Cortez,
donde começou a divisão.
Divisões – O mun. divide-se em três
districtos: 1º Amaragy; 2º Primavera; e o 3º Cortez.
População – A população total do município é
calculada em 15.000 habitantes.
Topographia
– A villa de Amaragy está situada á margem do rio que lhe empresta o nome, ao
sul da cidade de Escada e a sudoeste da capital. Tem uma boa edificação, é
logar prospero e commercial, possue uma excellente feira e tudo nelle, centro
de muitos engenhos, induz a crer que, embora a via-férrea S. Francisco lhe
passe a 15 klms. distante, será em breve um dos grandes nucleos de população do
Estado. Há na localidade somente a egreja de S. José da Boa-Esperança, que é a
matriz, desde maio de 1904; existe um cemiterio publico, a cadeia, edifício
particular em mas condições; tem uma agencia do correio, um gabinete de
leitura, sociedades recreativas, e, em seus muros que podem comprehender uma
300 casas, uma população provável de 2000 habitantes.
Povoados – Existem quatro alem da villa:
Primavera, ao norte, a marg. do rio Ipojuca, com uma capella de Santo Antonio,
distando 18 klms. da villa e co estrada
de ferro. Aripibú, á leste, a 15 klms., e á marg. da linha férrea do S.
Francisco. Cortêz, em terreno elevado, ao sul, 24 klms. distante e á marg. do
rio Serinhãem e de via-ferrea de Ribeirão ao Bonito.
Capellas – No território de Amaragy ha as
seguintes capellas: Santo Antonio, no pov. de Primavera; N. S. do Rosario, na
usina Cabeça de Negro; de S. Sebastião, no eng. Visgueiro; e de Santo Antonio,
no eng. Amaragy.
Pontes – A de Primavera, sobre o rio
Ipojuca, construida de madeira e com pilares de pedra, á custa e por iniciativa
do Capitão Antônio de Lima Ribeiro; a de Bamburral, sobre o rio Amaragy, a de
Cabeça de Negro, a de Frexeiras e a da via-ferrea que liga o povoado Primavera
á estação de Frexeiras, na linha do S. Francisco.
Orographia – As principais
serras são: a dos Amaragys, do Guloso, do Prata, da Amora, dos Côcos, da
Batateira, do Cumbe e da Pixanana.
Hydrographia – É atravessado, o
município pelo rio Amaragy, cujas vertentes são na parte septentrional do mesmo
municipio, no logar Macacos, tendo como afluentes, pela margem direita, os
riachos: Entre-Montes, Floresta, Riachão do Norte, Papagaio, Guarany, Riachão,
Raiz e Caxias; e pela margem esquerda: Cumbe, Amorinha, Pedras, Palmares,
Garra, Tapuya, Beija-Flor, Ajudante e Riqueza; e pelo rio Ipojuca, que entra
pelo norte, com a direccção sul, e depois segue desse rumo, buscando o nordeste
e correndo para o municipio da Escada, tendo banhado antes os povoados – Pedra Branca
e Primavera. Ainda lhes regam o solo os riachos Mundo Novo, Caracituba,
Batateira, Tapuyo, João Fernandes, Maria Clara, Aripibú, Uruçú-Mirim, Riachão,
Rede e Cabeça de Negro.
Producções – A principal e
abundante e a canna de assucar; depois os cereaes, tendo o terreno a uberdade
capaz de produzir tudo o mais quanto ha nas outras zonas do Estado.
Commercio e agricultura – O commercio é
bastante animado e desenvolvido, contando o municipio grande numero de casas
commerciaes, das quaes se destacam algumas importantes. A agricultura é a principal
fonte de riqueza local, e conta as usinas Bosque, Bamburral, Cabeça de Negro e
Aripibu e os engenhos – Amaragy, Animoso, Amora, Amorinha, Aurora, Ajudante,
Bom-Descanso, Conselho, Beija-Flor, Batateira, Bondade, Caracituba, Contendas,
Caheté, Capivara, Cortez, Diogo, Entre-Montes, Extremoso, Floresta, Gyra-Sol,
Guloso, Guarani, Garra, Jaguarana, Maravilha, Mariquita, Monte-Pio, Nabuco, Ninho
das Águias, Não Pensei, Opinioso, Pilões, Pedra Fina, Preferencia, Palmares, Republicano,
Roseira, Rhinoceronte, Riqueza, Repouso, Raiz de Fóra, Raiz Nova, Raiz de
Dentro, Riacho das Pedras, Riachão do Norte, Risco, Riachão, Refrigerio,
Refrigerante, Santa Cruz, Sangue, Saudade, Sete Ranchos, Timorante, Tolerante,
Teimoso, Traquilidade, Tapuya, Villa Accioly e Visgueiro.
Reinos da Natureza – Si existem
mineraes no municipio, até aqui se tem ignorado. O reino vegetal é riquissimo e
de pomposa vegetação alli, onde se encontra densas mattas, cheias de corpulentas
e robustas árvores, e de pequenos e débeis arbustos, úteis umas e outros ao
commercio, á medicina e ás artes. No reino animal são abundantes de caças as
suas florestas.
Viação – Comunica-se com a capital pele
estrada de ferro do S. Francisco, cuja estação mais próxima é a de Aripibú, e
com esta pela Via-ferrea da Usina Santa Philonila. Está a 112 klms. do Recife,
a 60 do litoral, 35 da cidade da Escada a 33 da cidade de Gamelleira.
Adiantamento moral – O município contém
seis escolas publicas e três particulares para o ensino primário e uma
destinada ao ensino secundário.
Curiosidades – A pedra da Pixanana, as cachoeiras do Urubu e da Mariquita, e ainda a colossal pedra denominada do Guloso, em terras do engenho do mesmo nome, que realmente é uma admirável
curiosidade.
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