Realizou-se no
dia onze do corrente a posse da primeira intendência do novo município de
Amaraji. A solenidade foi presidida pelo Sr. Antônio dos Santos Pontual, o
venerando Barão de Frexeiras. O ato foi concorridíssimo, achando-se presentes
as pessoas mais destacadas do distrito.
O prédio da
municipalidade achava-se todo decorado, uma banda marcial postada a sua frente,
as ruas da vila enfeitadas com arcos de flores e bandeirinhas.
Terminada a
sessão da Intendência, usaram da palavra o Dr. Fernando de Castro, o Dr. Davino
dos Santos Pontual em nome dos munícipes, um acadêmico de direito da capital, o
cidadão Guilherme Ramos falou em nome dos habitantes de Primavera, Pedro
Alexandrino e o novo intendente do município, Sr. Antônio Epaminondas de Barros
Correia, o Barão de Contendas.
Ao proceder-se a
nomeação dos novos servidores do município, o cidadão Manoel Brayner
ofereceu-se para assumir sem ônus para a municipalidade, o cargo de secretario,
o que foi aceito pela intendência, sendo o mesmo nomeado.
Por falta de
recursos financeiros na vila não existia ainda um prédio que servisse de
cadeia. Numa das casas da localidade existia um “tronco” onde eram colocados os
detentos e esta situação deixava os moradores da vila bastante constrangidos.
Na ocasião dois
senhores que preferiram ficar no anonimato, cederam uma casa para que servisse
da cadeia até que uma nova fossa construída. O Major Francisco da Rocha Pontual
comunicou o ocorrido à intendência e à população presente, os quais foram
tranquilizados ao saber que, a partir daí, haveria uma casa com a segurança
necessária para onde seriam recolhidos os detentos.
As principais
lideranças do distrito dirigiram-se à casa onde estava o “tronco”, conduziram
sobre os ombros o aviltante instrumento que lembrava a escravidão e atearam
fogo no mesmo até que ele foi reduzido a cinzas sob a unânime satisfação e
alegria de todos.
Foi aberta então
uma subscrição para construção de um prédio que servisse de cadeia pelos
munícipes presentes e foi arrecadada a quantia de um conto de réis. Foram
nomeados pela intendência o Comendador José Pereira de Araújo, os senhores
Manoel Barbosa de Farias e João Pinheiro Salgado Lins para agenciarem mais
donativos para a obra.
O comércio da
vila de Amaraji ofereceu aos membros da intendência um coquetel e à noite
organizaram uma passeata pelas ruas, acompanhada da filarmônica amarajiense,
estando as casas da vila todas iluminadas. A festa terminou com um baile oferecido
também pelo comércio local.
O quarto
distrito da paz da Escada, que abrange uma área em seu maior comprimento de 20
quilômetros, recentemente elevado a termo pelo benemérito Barão de Lucena, tem
duas povoações, a vila de Amaraji localizada a 8 km da estação de Frexeiras e
está edificada sob uma colina banhada pelo rio Amaraji. Tem cerca de 500 casas
com dois mil e quinhentos habitantes e vão funcionar em prédios próprios a
intendência municipal e a escola pública.
O povoado de
Primavera que distante da estação de Frexeiras 3 km é banhado pelo rio Ipojuca
limitando com a cachoeira do Urubu, tem cerca de trezentas casas com mil e
quinhentos habitantes.
A Vila de São
José da Boa Esperança, que recebeu o nome de Amaraji, foi fundada pelo
Comendador José Pereira de Araújo e a vila de Primavera, pelo Capitão Antônio
de Lima Ribeiro.
Há bem poucos
anos no local onde estão edificadas estas duas povoações existiam áreas de
matas e capoeirões sem uma única habitação. Devido a iniciativa e os esforços
destes dois patrióticos e benemeritos cidadãos o estado de Pernambuco passa a
ter mais estes dois centros de população com bastante desenvolvimento
comercial, industrial e agrícola.
Extraído
do jornal A Província de 16 de outubro de 1890.
CREAÇÃO DO TERMO
4ª Secção – Palacio do Governo do
Estado de Pernambuco em 24 de Setembro de 1890.
O desembargador Barão de Lucena,
Governador do Estado:
Attendendo a que a lei provincial nº
2.137, de 9 de Novembro de 1989, não deu denominação alguma do termo e villa a
que foram elevados o povoado e freguesia de São José da Boa Esperança;
Attendendo ainda a conveniencia de
dividir em dous o actual districto da paz do referido termo;
Usando das atribuições que lhe
confere o Decreto do Governo Provisorio, nº 7, de 20 de novembro de 1889,
resolve publicar o seguinte:
DECRETO:
Artigo 1º A villa e termo a que
foram elevados o povoado e freguesia de S. José da Bôa Esperança terão a
denominação de Amaragy.
Artigo 2º O actual disricto de paz
do termo de Amaragy fica dividido em dous, assim separados:
A linha divisória partirá do engenho
Caheté no limite da comarca de Gamelleira e seguirá pelos engenhos Tolerancia,
Maravilha, Ajudante, Beija Flor, Jaguarana e Batateira até encontrar os limites
da comarca da Victoria, ficando os engenhos mencionados pertencendo ao 2º
distrito de paz:
O 1º districto teá a denominação de
S. José, e o 2º de Primavera.
Artigo 3º Ficam revogadas as
disposições em contrario.
O Secretario de Governo faça
publicar o presente Decreto, expedindo as ordens e communicações necessárias - Barão de Lucena
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