Mara Santiago nasceu
no dia sete de julho de 1930 em Amaraji. Filha de Erasmo José Alves e Levina de
Vasconcelos Alves. Seus avós paternos foram Victor José Alves e Maria José
Alves e os maternos, Liberato Joaquim de Vasconcelos e Maria Manuela Tavares de
Vasconcelos. Foi registrada no dia 16 de agosto de 1930.
Iniciou seus
estudos primários com a professora Lourdes Barbosa nesta cidade.
Posteriormente, cursou o ginásio no Colégio Santa Cristina na cidade de Nazaré
da Mata. Cursou e concluiu o curso pedagógico na Escola Normal Pinto Junior em
Recife no ano de 1952. Sua colação de grau aconteceu no teatro de Santa Isabel
no dia 7 de dezembro de 1950 e seu paraninfo foi Hildefonso de Vasconcelos
Filho.
No mês de abril de
1953 ela foi aprovada no 5º Curso de Aperfeiçoamento de Professoras Rurais da
Secretaria de Educação. Obteve o 32º lugar na classificação geral do concurso,
com as seguintes notas: Metodologia – 70, Provas e Medidas – 96, Redação
Oficial – 90, Puericultura – 95 e Práticas Rurais – 90. Sua media global foi de
88,20. Os resultados do concurso foram publicados no Diário Oficial do Estado
do dia dez de abril de 1953.
No dia 13 de julho de 1953, a portaria
nº 1050 da Secretaria de Administração do Estado determinou sua localização,
juntamente com Maria Neide Lins, na Escola Típica Rural de Caracituba. Nova
portaria, a de nº 1915, do dia 17.10.1953, determinou que ela fosse localizada
na Escola Típica Rural do engenho Garra, para exercer a função de professora
extranumerária mensalista. Esse era um tipo de contrato anual que o Governo
fazia com as professoras recém-formadas. Cada início de ano, elas eram
reconduzidas à escola através de novo contrato assinado.
Em 1957, pelo do ato governamental nº
863 de 27 de janeiro, muitas professoras receberam promoção. Mara Vasconcelos,
através da portaria nº 1394 de 11 de junho do mesmo ano, foi designada para
assumir a cadeira nº 4 do Grupo Dom Luiz de Brito, deixando a Escola Típica
Rural do Engenho Garra. Ela permaneceu naquela escola por quase cinco anos,
trabalhando com muita dedicação e amor com crianças da zona rural.
No dia seis de dezembro de 1963,
contraiu matrimônio com o professor Israel Agostinho Santiago, na época, tabelião
do cartório do primeiro ofício de Amaraji e diretor Ginásio São José da Boa
Esperança, mantido pela Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. O casal
são os pais de: Ana Paula de Vasconcelos Santiago, Helder de Vasconcelos
Santiago e Israel Agostinho Santiago Júnior.
Em 1957, através do
Ato nº 2021 de 21 de março de 1963 do Governador, ela deixou o Grupo Escolar
Dom Luiz de Brito para ficar à disposição do Ginásio São José da Boa Esperança
com ônus para o Estado.
Nas eleições
majoritárias de 1958 ela candidatou-se a vereadora. Foi a primeira mulher a
disputar um mandato na história de Amaraji. Ficou na suplência, mas assumiu a
vaga de vereadora por várias vezes. Foi na gestão do prefeito Plínio Alves de
Araújo.
No dia 18 de junho
de 1967 deixa o Ginásio São José e retorna às suas atividades no Grupo Escolar
Dom Luiz de Brito. Continuou, entretanto, a lecionar no Ginásio São José, onde
dava aulas de português e literatura portuguesa. Até hoje Mara e lembrada por
seus alunos por sua eficiência, capacidade e dedicação ao ensino.
No começo da década
de 1980 cursou letras na Faculdade de Formação de Professores da Mata-Sul –
FAMASUL.
Em março de 1979, foi nomeada diretora
do Grupo Escolar Dom Luiz de Brito, substituindo a professora Denise Fontes Moraes
que fora designada supervisora dos municípios de Amaraji e Primavera. Nos nove
anos de direção da escola fez um excelente trabalho, interagindo bem com as
pessoas da regional da educação de Palmares, com os colegas, os alunos e a
comunidade. Ficou à frente do Dom Luiz até julho de 1988.
No final da década de 1980 deixou
Amaraji e passou a residir em Olinda. Era uma casa muito bem decorada com flores
e plantas por toda parte. Em meados dos anos noventa retorno para Amaraji.
A filha mais velha
de Erasmo José Alves e Levina Vasconcelos Alves foi batizada com o nome de
Amara. Para os familiares e amigos era Amarinha. A irrequieta e alegre menina
que cresceu amando as paisagens amarajienses.
Mais tarde tornou-se conhecida como Mara, nome que adotou, pois como
dizia, era menos amargo. Mara cresceu envolvida pela cultura e pelas tradições
da cidade de Amaraji, a terrinha que tanto amou.
Possuidora de uma
grande facilidade de expressão, Mara era sempre convidada para recepcionar
autoridades políticas, eclesiásticas, etc. Tornou-se conhecida por sua
oratória, seus conhecimentos literários, história e tradições do município. Foi
a primeira mulher amarajiense a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de
Amaraji.
Nos anos 1974 e
1975, Mara Santiago e a Abiacy Andrade mantiveram no serviço de som do Cine
Clube Amaraji um programa de variedades que ia ao ar nos domingos à tarde. O
“Amaraji Informal” relembrava a cidade de antigamente. Noticiava fatos,
realizava entrevistas, promovendo dessa forma, um grande resgate da história e
da cultura local, como também proporcionando uma enorme contribuição na
divulgação de informações que esclarecia a população sobre a verdadeira
cidadania. A população aguardava com ansiedade o horário vespertino do domingo
para escutar o programa levado ao éter dos quatro cantos da cidade pelas
cornetas do Cine Clube.
Mara escreveu
incansavelmente durante longos anos de sua vida. Seus gêneros preferidos eram a
literatura de cordel, a poesia romântica, a crônica do dia a dia. Também escreveu
reflexões e pensamentos sobre temas diversos. Incentivada por amigos escreveu o
livro Amaraji sem Retoques.
O livro foi lançado
no dia 00 de novembro de 1986 no salão paroquial da cidade. O prefeito Álvaro
Melo, a Câmara Municipal e a professora Aline Cavalcanti estiveram à frente da
organização do evento, preparando uma grande recepção na qual estavam presentes
parentes, alunos e amigos da cidade e de cidades vizinhas.
A apresentação do
livro foi feita pelo professor Antônio Alves da Costa ao lado de sua esposa
Luzia. O desenrolar da programação ficou a cargo de Sandoval Cavalcanti que,
junto com Alzira, organizaram tudo. Um destaque para a presença do professor e
odontólogo, José Roberto de Melo, presidente da Academia Pernambucana de
Odontologia, ao lado de sua mãe dona Bibi Melo.
O salão atapetado
de folhas de canela foi decorado pelo artista plástico Mário Celso Miranda
Cunha, amigo de Mara. O bufê preparado com iguarias da cozinha regional, como:
bolo de massa de mandioca, beiju, tapioca, manuê, grude de goma, entre outras e
foi servido por jovens caracterizadas de caipira. Houve também apresentação de
pastoril e danças folclóricas, por um grupo infantil coordenado pela professora
Rosete Pedrosa.
Numa linguagem
simples, em seu livro ela retratou fatos, tipos, causos e peculiaridades da
cidade e de seus habitantes. Fala das atividades sociais de ontem e de hoje, do
folclore, dos pontos turísticos, dos engenhos, da política, da economia e da
cultura. Este é o acróstico que ela escreveu, enaltecendo a terra tanto amava.
Foi uma grane
incentivadora da arte e cultura amarajiense, sendo uma das fundadoras do Centro
Erasmo Alves de Cultura – CEAC.
Mara teve como
bandeira o amor e o orgulho por nossa terra, demonstrando isso na poesia que
compõe o belo hino de Amaraji, de sua autoria. Comunicativa, alegre, jovial,
Mara se destacava onde quer que fosse e seu encanto por nossa terra fazia com
que ela se autodenominasse “a cara de Amaraji”.
Gostava de receber
pequenos grupos de amigos em sua casa para recepções. Enquanto os amigos se
divertiam cantando e tomando uns drinks, ela cuidava de tudo nos mínimos
detalhes: servia, limpava e organizava tudo. Quando a festa chegava ao fim, a
casa estava tão arrumada que parecia que tudo ia começar naquele momento.
Em sua casa na Rua
23 de Julho ela construiu, na parte de trás, um espaço bastante arborizado e
florido, com banquinhos de praça e uma piscina. Chamava o ambiente de “minha
área de lazer” e nos, seus amigos, tivemos momentos muito agradáveis e
divertidos lá.
No dia 30 de agosto
de 2001 Mara partiu prematuramente, deixando uma grande lacuna entre seus
amigos e no meio cultural, artístico e social da cidade.
Em 23 de julho de
2011 foi inaugurada em Amaraji a Escola de Musica Amara de Vasconcelos Santiago
em sua homenagem.
A Escola de Musica
Amara de Vasconcelos Santiago, inaugurada no dia 23 de julho de 2011, foi uma
merecida homenagem da prefeitura, na pessoa do prefeito Jânio Gouveia, à mestra
de tantas gerações.
Amaraji, porém, continuar a amar Mara, pois
ela está no coração de cada amarajiense que a conheceu e que teve a felicidade
de privar de sua amizade. No final de seu livro ela escreveu um belo resumo de
todo o trabalho:
RETROSPECTO
Ai de mim, quanta
lembrança, do que ficou para trás
Do meu tempo de
criança que não volta nunca mais.
Em pensamento eu
revejo a pequena Amaraji
Ruas, becos e
vielas, que em menina conheci.
Relembrando o teu
passado, vem logo à minha mente
Pedrinho dentista
que vinha extrair e botar dente.
Um tipo muito risonho,
com todos, ele brincava,
Seu Mário
telegrafista, no Correio ele morava.
Vejo outro
conhecido de Amaraji, coletor,
É o Zé Guilherme de
Andrade, recordo com muito amor.
Paro aqui pra
recordar fatos e coisas também
Lembranças de uma
época que à minha mente vem.
A política era bem
quente e a divisão era tamanha
Que valia tudo na
vida pra se vencer a campanha.
No dia da eleição a
vigilância era demais
As estratégias eram
muitas pra botar o outro pra trás.
Senhores com seus
capangas vinham para aqui comandar,
Com seus rifles bem
à mostra, todo o povo amedrontar.
Os políticos
daquele tempo, “donos” da situação,
Mandavam até na
justiça, não queriam opinião.
A politicagem era
tanta, na luta pelo poder,
Que valia tudo na vida
para a campanha vencer.
Nesse tempo
Primavera a Amaraji pertencia
E juntamente com
Cortês, o voto se dividia.
A primeira eleição,
na qual o meu voto dei,
Foi pra Agamenon
Magalhães, de lá pra cá não parei.
Votei e já fui
votada, pra vereadora daqui,
Sendo a primeira
mulher, eleita em Amaraji.
E por falar em
política, ninguém mais politiqueiro,
O seu nome era
Laurindo, apelidado, o Doceiro.
Seu Lalá me lembro
bem, gostava de uma caninha,
Tomava pra se
alegrar, quando do Garra vinha.
Vamos retrospectar,
juntando coisinhas mais,
Du tempo em que
aqui vivi e que está muito pra trás.
Namoro aqui era
“flerte”, hoje é “transa” ou “paqueração”
Mulher casada era
dama, hoje não há discriminação.
Zona só existia uma
e discretamente se ia
Hoje tem pra escolher,
se no centro ou periferia.
Ônibus se chamava
sopa, motorista era chofé
Padre vestia
batina, balão, só o de Seu Né.
Crente aqui
chamavam “Bode” e havia divisão
Um católico não
comprava na venda do velho Tião.
O preconceito era
demais em nome da religião
Quem quisesse ir
pro “escanteio”, andasse com a bíblia na mão.
Os exames nas
escolas eram escritos e orais,
Matemática e
português, se estudava demais.
Nenhuma estratégia
tinha, nem círculo de pais havia,
Somente muito rigor
e o aluno aprendia.
Estou cansada de
ouvir e muita gente afirmar
Que o primário de
antigamente, é o atual vestibular.
Não vejo nisso
exagero, dou meu testemunho ardente
Professora no meu
tempo ensinava a se ser “gente”.
As mulheres
engravidavam e não faziam prenatal
Davam à luz em casa
mesmo e saía tudo muito legal.
“Olhado” e
“espinhela caída”, disso não se morria não,
As rezadeiras davam
um jeito, com manto e muita oração.
Quando a tarde
escurecia, na “horinha” do jantar,
O motor funcionava
para a cidade alegrar.
Quando soavam dez
horas, todo mundo já sabia
O motor dava o
sinal e o povo se recolhia.
As serenatas eram o
“fraco” em toda ocasião
Cantiga de roda e
valsa eram também atração.
Os bailes se
realizavam com tamanha animação
E era a Rádio
Educadora o lugar dessa atração.
A turma lá do
sereno ficava querendo ver
Quem apertava mais
a mão pra toda a cidade encher.
Parece-me ainda
ouvir alguém assim se expressar:
“Alô, Senhor Paulo,
queira esta música escutar”.
Tínhamos também um
jornal que circulava todo mês
Com notícias de
Primavera, Amaraji e Cortês.
Seu fundador,
Erasmo Alves, homem de muita visão,
Fez de “A Voz de
Amaraji” veículo de muita ação.
Nas festas de Natal
não havia pomposidade,
Mas a alegria
reinava nos recantos da cidade.
O mês de maio era animado
do primeiro ao último dia,
Fogos, flores e
balão, cada noiteiro trazia.
Os Sete de Setembro,
por gosto se podia ver,
O Externato de Dona
Lourdes, nada ficava a dever.
E era assim que
Mara Santiago via Amaraji, seu povo, os costumes e tradições da cidade. Ela fez
jus, merecidamente, ao que está escrito na orelha de seu livro “Amaraji sem
Retoques”:
“Quem conhece
Amara, e souber amar, amará Amara e Amaraji”.