sábado, 30 de março de 2013

Grandes Mestres de Amaraji - Mara de Vasconcelos Santiago

Mara Santiago nasceu no dia sete de julho de 1930 em Amaraji. Filha de Erasmo José Alves e Levina de Vasconcelos Alves. Seus avós paternos foram Victor José Alves e Maria José Alves e os maternos, Liberato Joaquim de Vasconcelos e Maria Manuela Tavares de Vasconcelos. Foi registrada no dia 16 de agosto de 1930.
Iniciou seus estudos primários com a professora Lourdes Barbosa nesta cidade. Posteriormente, cursou o ginásio no Colégio Santa Cristina na cidade de Nazaré da Mata. Cursou e concluiu o curso pedagógico na Escola Normal Pinto Junior em Recife no ano de 1952. Sua colação de grau aconteceu no teatro de Santa Isabel no dia 7 de dezembro de 1950 e seu paraninfo foi Hildefonso de Vasconcelos Filho.
No mês de abril de 1953 ela foi aprovada no 5º Curso de Aperfeiçoamento de Professoras Rurais da Secretaria de Educação. Obteve o 32º lugar na classificação geral do concurso, com as seguintes notas: Metodologia – 70, Provas e Medidas – 96, Redação Oficial – 90, Puericultura – 95 e Práticas Rurais – 90. Sua media global foi de 88,20. Os resultados do concurso foram publicados no Diário Oficial do Estado do dia dez de abril de 1953.
   
     No dia 13 de julho de 1953, a portaria nº 1050 da Secretaria de Administração do Estado determinou sua localização, juntamente com Maria Neide Lins, na Escola Típica Rural de Caracituba. Nova portaria, a de nº 1915, do dia 17.10.1953, determinou que ela fosse localizada na Escola Típica Rural do engenho Garra, para exercer a função de professora extranumerária mensalista. Esse era um tipo de contrato anual que o Governo fazia com as professoras recém-formadas. Cada início de ano, elas eram reconduzidas à escola através de novo contrato assinado.
        Em 1957, pelo do ato governamental nº 863 de 27 de janeiro, muitas professoras receberam promoção. Mara Vasconcelos, através da portaria nº 1394 de 11 de junho do mesmo ano, foi designada para assumir a cadeira nº 4 do Grupo Dom Luiz de Brito, deixando a Escola Típica Rural do Engenho Garra. Ela permaneceu naquela escola por quase cinco anos, trabalhando com muita dedicação e amor com crianças da zona rural.
        No dia seis de dezembro de 1963, contraiu matrimônio com o professor Israel Agostinho Santiago, na época, tabelião do cartório do primeiro ofício de Amaraji e diretor Ginásio São José da Boa Esperança, mantido pela Campanha Nacional de Educandários Gratuitos. O casal são os pais de: Ana Paula de Vasconcelos Santiago, Helder de Vasconcelos Santiago e Israel Agostinho Santiago Júnior.
Em 1957, através do Ato nº 2021 de 21 de março de 1963 do Governador, ela deixou o Grupo Escolar Dom Luiz de Brito para ficar à disposição do Ginásio São José da Boa Esperança com ônus para o Estado.
Nas eleições majoritárias de 1958 ela candidatou-se a vereadora. Foi a primeira mulher a disputar um mandato na história de Amaraji. Ficou na suplência, mas assumiu a vaga de vereadora por várias vezes. Foi na gestão do prefeito Plínio Alves de Araújo.
No dia 18 de junho de 1967 deixa o Ginásio São José e retorna às suas atividades no Grupo Escolar Dom Luiz de Brito. Continuou, entretanto, a lecionar no Ginásio São José, onde dava aulas de português e literatura portuguesa. Até hoje Mara e lembrada por seus alunos por sua eficiência, capacidade e dedicação ao ensino.
No começo da década de 1980 cursou letras na Faculdade de Formação de Professores da Mata-Sul – FAMASUL.
        Em março de 1979, foi nomeada diretora do Grupo Escolar Dom Luiz de Brito, substituindo a professora Denise Fontes Moraes que fora designada supervisora dos municípios de Amaraji e Primavera. Nos nove anos de direção da escola fez um excelente trabalho, interagindo bem com as pessoas da regional da educação de Palmares, com os colegas, os alunos e a comunidade. Ficou à frente do Dom Luiz até julho de 1988.
        No final da década de 1980 deixou Amaraji e passou a residir em Olinda. Era uma casa muito bem decorada com flores e plantas por toda parte. Em meados dos anos noventa retorno para Amaraji.
A filha mais velha de Erasmo José Alves e Levina Vasconcelos Alves foi batizada com o nome de Amara. Para os familiares e amigos era Amarinha. A irrequieta e alegre menina que cresceu amando as paisagens amarajienses.  Mais tarde tornou-se conhecida como Mara, nome que adotou, pois como dizia, era menos amargo. Mara cresceu envolvida pela cultura e pelas tradições da cidade de Amaraji, a terrinha que tanto amou.
Possuidora de uma grande facilidade de expressão, Mara era sempre convidada para recepcionar autoridades políticas, eclesiásticas, etc. Tornou-se conhecida por sua oratória, seus conhecimentos literários, história e tradições do município. Foi a primeira mulher amarajiense a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Amaraji.
Nos anos 1974 e 1975, Mara Santiago e a Abiacy Andrade mantiveram no serviço de som do Cine Clube Amaraji um programa de variedades que ia ao ar nos domingos à tarde. O “Amaraji Informal” relembrava a cidade de antigamente. Noticiava fatos, realizava entrevistas, promovendo dessa forma, um grande resgate da história e da cultura local, como também proporcionando uma enorme contribuição na divulgação de informações que esclarecia a população sobre a verdadeira cidadania. A população aguardava com ansiedade o horário vespertino do domingo para escutar o programa levado ao éter dos quatro cantos da cidade pelas cornetas do Cine Clube.
Mara escreveu incansavelmente durante longos anos de sua vida. Seus gêneros preferidos eram a literatura de cordel, a poesia romântica, a crônica do dia a dia. Também escreveu reflexões e pensamentos sobre temas diversos. Incentivada por amigos escreveu o livro Amaraji sem Retoques.
O livro foi lançado no dia 00 de novembro de 1986 no salão paroquial da cidade. O prefeito Álvaro Melo, a Câmara Municipal e a professora Aline Cavalcanti estiveram à frente da organização do evento, preparando uma grande recepção na qual estavam presentes parentes, alunos e amigos da cidade e de cidades vizinhas.
A apresentação do livro foi feita pelo professor Antônio Alves da Costa ao lado de sua esposa Luzia. O desenrolar da programação ficou a cargo de Sandoval Cavalcanti que, junto com Alzira, organizaram tudo. Um destaque para a presença do professor e odontólogo, José Roberto de Melo, presidente da Academia Pernambucana de Odontologia, ao lado de sua mãe dona Bibi Melo.
O salão atapetado de folhas de canela foi decorado pelo artista plástico Mário Celso Miranda Cunha, amigo de Mara. O bufê preparado com iguarias da cozinha regional, como: bolo de massa de mandioca, beiju, tapioca, manuê, grude de goma, entre outras e foi servido por jovens caracterizadas de caipira. Houve também apresentação de pastoril e danças folclóricas, por um grupo infantil coordenado pela professora Rosete Pedrosa.
Numa linguagem simples, em seu livro ela retratou fatos, tipos, causos e peculiaridades da cidade e de seus habitantes. Fala das atividades sociais de ontem e de hoje, do folclore, dos pontos turísticos, dos engenhos, da política, da economia e da cultura. Este é o acróstico que ela escreveu, enaltecendo a terra tanto amava.


 
Foi uma grane incentivadora da arte e cultura amarajiense, sendo uma das fundadoras do Centro Erasmo Alves de Cultura – CEAC.
Mara teve como bandeira o amor e o orgulho por nossa terra, demonstrando isso na poesia que compõe o belo hino de Amaraji, de sua autoria. Comunicativa, alegre, jovial, Mara se destacava onde quer que fosse e seu encanto por nossa terra fazia com que ela se autodenominasse “a cara de Amaraji”.
Gostava de receber pequenos grupos de amigos em sua casa para recepções. Enquanto os amigos se divertiam cantando e tomando uns drinks, ela cuidava de tudo nos mínimos detalhes: servia, limpava e organizava tudo. Quando a festa chegava ao fim, a casa estava tão arrumada que parecia que tudo ia começar naquele momento.
Em sua casa na Rua 23 de Julho ela construiu, na parte de trás, um espaço bastante arborizado e florido, com banquinhos de praça e uma piscina. Chamava o ambiente de “minha área de lazer” e nos, seus amigos, tivemos momentos muito agradáveis e divertidos lá.
No dia 30 de agosto de 2001 Mara partiu prematuramente, deixando uma grande lacuna entre seus amigos e no meio cultural, artístico e social da cidade.
Em 23 de julho de 2011 foi inaugurada em Amaraji a Escola de Musica Amara de Vasconcelos Santiago em sua homenagem.
A Escola de Musica Amara de Vasconcelos Santiago, inaugurada no dia 23 de julho de 2011, foi uma merecida homenagem da prefeitura, na pessoa do prefeito Jânio Gouveia, à mestra de tantas gerações.
Amaraji, porém, continuar a amar Mara, pois ela está no coração de cada amarajiense que a conheceu e que teve a felicidade de privar de sua amizade. No final de seu livro ela escreveu um belo resumo de todo o trabalho:
 
 
 
 
RETROSPECTO
 
Ai de mim, quanta lembrança, do que ficou para trás
Do meu tempo de criança que não volta nunca mais.
 
Em pensamento eu revejo a pequena Amaraji
Ruas, becos e vielas, que em menina conheci.
 
Relembrando o teu passado, vem logo à minha mente
Pedrinho dentista que vinha extrair e botar dente.
 
Um tipo muito risonho, com todos, ele brincava,
Seu Mário telegrafista, no Correio ele morava.
 
Vejo outro conhecido de Amaraji, coletor,
É o Zé Guilherme de Andrade, recordo com muito amor.
 
Paro aqui pra recordar fatos e coisas também
Lembranças de uma época que à minha mente vem.
 
A política era bem quente e a divisão era tamanha
Que valia tudo na vida pra se vencer a campanha.
 
No dia da eleição a vigilância era demais
As estratégias eram muitas pra botar o outro pra trás.
 
Senhores com seus capangas vinham para aqui comandar,
Com seus rifles bem à mostra, todo o povo amedrontar.
 
Os políticos daquele tempo, “donos” da situação,
Mandavam até na justiça, não queriam opinião.
 
A politicagem era tanta, na luta pelo poder,
 
Que valia tudo na vida para a campanha vencer.
 
Nesse tempo Primavera a Amaraji pertencia
E juntamente com Cortês, o voto se dividia.
 
A primeira eleição, na qual o meu voto dei,
Foi pra Agamenon Magalhães, de lá pra cá não parei.
 
Votei e já fui votada, pra vereadora daqui,
Sendo a primeira mulher, eleita em Amaraji.
 
E por falar em política, ninguém mais politiqueiro,
O seu nome era Laurindo, apelidado, o Doceiro.
 
Seu Lalá me lembro bem, gostava de uma caninha,
Tomava pra se alegrar, quando do Garra vinha.
 
Vamos retrospectar, juntando coisinhas mais,
Du tempo em que aqui vivi e que está muito pra trás.
 
Namoro aqui era “flerte”, hoje é “transa” ou “paqueração”
Mulher casada era dama, hoje não há discriminação.
 
Zona só existia uma e discretamente se ia
Hoje tem pra escolher, se no centro ou periferia.
 
Ônibus se chamava sopa, motorista era chofé
Padre vestia batina, balão, só o de Seu Né.
 
Crente aqui chamavam “Bode” e havia divisão
Um católico não comprava na venda do velho Tião.
 
O preconceito era demais em nome da religião
Quem quisesse ir pro “escanteio”, andasse com a bíblia na mão.
 
Os exames nas escolas eram escritos e orais,
Matemática e português, se estudava demais.
 
Nenhuma estratégia tinha, nem círculo de pais havia,
Somente muito rigor e o aluno aprendia.
 
Estou cansada de ouvir e muita gente afirmar
Que o primário de antigamente, é o atual vestibular.
 
Não vejo nisso exagero, dou meu testemunho ardente
Professora no meu tempo ensinava a se ser “gente”.
 
As mulheres engravidavam e não faziam prenatal
Davam à luz em casa mesmo e saía tudo muito legal.
 
“Olhado” e “espinhela caída”, disso não se morria não,
As rezadeiras davam um jeito, com manto e muita oração.
 
Quando a tarde escurecia, na “horinha” do jantar,
O motor funcionava para a cidade alegrar.
 
Quando soavam dez horas, todo mundo já sabia
O motor dava o sinal e o povo se recolhia.
 
As serenatas eram o “fraco” em toda ocasião
Cantiga de roda e valsa eram também atração.
 
 
Os bailes se realizavam com tamanha animação
E era a Rádio Educadora o lugar dessa atração.
 
 
A turma lá do sereno ficava querendo ver
Quem apertava mais a mão pra toda a cidade encher.
 
Parece-me ainda ouvir alguém assim se expressar:
“Alô, Senhor Paulo, queira esta música escutar”.
 
Tínhamos também um jornal que circulava todo mês
Com notícias de Primavera, Amaraji e Cortês.
 
Seu fundador, Erasmo Alves, homem de muita visão,
Fez de “A Voz de Amaraji” veículo de muita ação.
 
Nas festas de Natal não havia pomposidade,
Mas a alegria reinava nos recantos da cidade.
 
O mês de maio era animado do primeiro ao último dia,
Fogos, flores e balão, cada noiteiro trazia.
 
Os Sete de Setembro, por gosto se podia ver,
O Externato de Dona Lourdes, nada ficava a dever.
 
E era assim que Mara Santiago via Amaraji, seu povo, os costumes e tradições da cidade. Ela fez jus, merecidamente, ao que está escrito na orelha de seu livro “Amaraji sem Retoques”:
 
“Quem conhece Amara, e souber amar, amará Amara e Amaraji”.


Um comentário:

  1. Esse é um dos melhores relatos sobre a vida de Mara que já li. Fiquei impressionado com a qualidade e profundidade do documento que conseguiu retatar com riqueza de detalhes a vida de Mara santiago. Parabéns ao escritor(a) e à organização do blog, por esse importânte resgate histórico e merecida homenágem à nossa eterna professora Amarinha. Dexo aquí uma das grandes lições que aprendí com ela: "Quem não vive pra servir, não serve pra viver".

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