segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

14 - Só Danço Se Eu For a Mestra, Exigiu a Borboleta

E a pequena Aline atravessou todo aquele ano realizando suas atividades normais de criança e estudante do primário. Brincadeiras com as amigas, tarefas escolares, orações na igreja e toda aquela rotina que a vida da província oferecia. Parecia monótona, mas era divertida e cheia de novidades.
E no final do ano foi convidada pelas senhoras que organizavam o pastoril católico para fazer parte do tradicional festejo natalino. O personagem da “borboleta” estava destinado para ela por conta de seu perfil: pequena, desenvolta e com uma voz maviosa. Uma borboleta perfeita. Mas essa não era sua idéia. Desde mais nova, ela sempre torceu pelo “encarnado” e seu sonho era ser a mestra que se apresentava na frente do cordão e, para espanto de todos que organizavam a reunião do pastoril, bateu o pé e foi embora quando lhe disseram que ela ia se apresentar de asinhas. Leiam o restante no final da página.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

13 - Usinas de Amaraji no Início do Século XX

Amaraji, no início do século XX, possuía uma vasta extensão territorial. Fazia parte do município, os territórios de Cortês, Primavera e o distrito de Aripibu que pertence a Ribeirão. O município contava ainda com 61 engenhos bangüês que fabricavam açúcar e aguardente. Entre 1888 a 1953, chegou a possuir sete usinas: Aripibu, Bamburral, Bosque, Cabeça de Negro, Bonfim, Pedroza e Liberato Marques.

ARIPIBU - Em 1888, a usina realizou sua primeira moagem. O distrito de Aripibu pertencia, na época, ao município de Amaraji. A indústria foi fundada por Leocádio Alves Pontual, casado com Ana Joaquina dos Santos e, pelo falecimento desta, com Maria Amélia de Lima Mattos.
Com a morte de Leocádio Pontual, foi formada a firma Pontual & Cia., que continuou como propriedade dos seus descendentes até ser comprada pelos irmãos Mário e Armando de Queiroz Monteiro. A empresa, em 1929, possuía nove propriedades agrícolas e inúmeros fornecedores. A indústria tinha capacidade de processar 400 toneladas e fabricar 3.000 litros de álcool em 22 horas de funcionamento. Tinha uma ferrovia de 60 km, cinco locomotivas e 125 vagões com capacidade para três toneladas, cada. A fábrica funcionava com seis caldeiras e 300 operários trabalhavam na usina. Possuía uma grande vila operária e mantinha uma escola com freqüência média anual de 40 alunos. Aripibu foi desmembrada de Amaraji pelo decreto-lei estadual nº 235 de 9 de dezembro de 1938, passando a pertencer ao município de Ribeirão. Entre 1964 e 1965 foi anexada à usina Cucaú e transformada na pecuária CAPRI - Companhia Agropecuária de Ribeirão, onde são criadas vacas leiteiras, cavalos manga larga e onde existe um campo para cultura experimental de variedades de cana.

BAMBURRAL - Localizada no município de Amaraji, a usina se localizava a 7 km de distância da estação de trem de Aripibu e a 70, de Recife. Foi fundada em 1889 por José Pereira de Araújo, coronel da guarda nacional, por uma concessão doada em 1888. José Pereira de Araújo veio residir no engenho Bamburral, propriedade de seu pai, também chamado de José Pereira de Araújo. Ele reformou o engenho, instalando um maquinário moderno.
A propriedade compreendia nove engenhos, dos quais os mais importantes eram Bamburral e Paraíso. A usina dispunha de 32 quilômetros de linhas férreas, com 60 centímetros de bitola, de 120 carros de quatro toneladas cada um e três locomotivas. A sua rede férrea fazia conexão com a da usina Frexeiras, a qual se estende até a estação de Frexeiras, na estrada de ferro Great Western. A capacidade da Usina era de 280 toneladas de açúcar por dia de trabalho de 22 horas empregando cerca de 300 operários. O maquinismo era de origem francesa e compreendia, além de outras máquinas, 4 caldeiras, 18 turbinas e 2 moendas. No ano de 1920, a usina passou a pertencer ao Dr. Davino dos Santos Pontual Júnior. Em seguida, ficou para os seus herdeiros. Em 1933, absorveu a usina Cabeça de Negro que também pertencia ao mesmo dono, Dr. Davino Pontual e, por último, passou para as mãos do Sr. João Pinto Lapa que a repassou para Dr. José Lopes de Siqueira Santos, proprietário da usina Caxangá. Em 1949, suas moendas definitivamente desativadas.

BOSQUE - Fundada no engenho do mesmo nome, no município de Amaraji, entre os anos 1885 e 1890. Seu fundador foi José Manuel dos Santos Pontual e seu filho, na época formando a empresa Dr. M. Pontual & Cia. A indústria era do tipo meio aparelho e sua capacidade era de 20.000 toneladas por safra.
Diziam que o senhor Manuel Pontual era tão econômico a ponto de prejudicar o bom andamento da usina, especialmente na época de moagem. Seus funcionários comentavam que ele não comprava material de manutenção, como chave de boca e outros utensílios, obrigando os mecânicos da usina a andarem com os bolsos cheios de barbantes e pedaços de borracha para tapar vazamentos nos canos de água e de caldo. Para retirar porcas dos parafusos que precisavam ser removidas nos reparos cotidianos das ferragens, os mecânicos precisavam conduzir no cinto um martelo e um escopo. Suas atividades encerradas em 1917 quando foi fundida à usina Frexeiras formado o grupo Dias, Pontual e Barros. No ano de seu encerramento a previsão de sua moagem para o ano seguinte era de 20.000 toneladas.

CABEÇA DE NEGRO - Em 1888, José Manoel dos Santos Pontual e seu filho João Manoel dos Santos Pontual Júnior fundaram a usina Cabeça de Negro que inaugurou seu parque industrial naquele ano moendo pela primeira vez. Estava localizada no centro da melhor zona açucareira do estado de Pernambuco, compreendida nos municípios de Amaraji e Escada.

 A usina, com capacidade para moer 220 toneladas e fabricar 2400 litros de álcool em 22 horas de atividade. Tinha dois engenhos próprios e recebia cana de três de fornecedores. A indústria tinha uma caldeira e mantinha uma via férrea de 20 km, utilizada por duas locomotivas e 80 vagões. Na fábrica trabalhavam 50 operários. No início da década de 1900, a usina passou a pertencer a seu sobrinho Dr. Davino dos Santos Pontual Júnior, bacharel em direito e influente político da época. Foi eleito deputado constituinte e, posteriormente, senador do Senado Estadual. Foi um grande defensor da classe canavieira. Com a morte de Dr. Davino Pontual em 1933, a usina foi desativada e as propriedades foram absorvidas pela usina Bamburral, que tempos depois, pertenceu ao Dr. João Pinto Lapa. Em seguida foi vendida ao Dr. José Lopes de Siqueira Santos e absorvida pela usina Caxangá.

UNIÃO E INDÚSTRIA - Em 1895, ela iniciou suas atividades. Situada no município de Escada, foi fundada em pelo major da Guarda Nacional Manoel Antônio dos Santos Dias, proprietário da Usina Santa Philonila, no engenho Jundiá. Primeiramente recebeu o nome de Santa Philonila; depois Bom Fim; Santos Dias e por fim União e Indústria. Até o início do século vinte pertenceu ao mesmo dono, passando então para a propriedade de Luiz Dubeux.  
Em 1929, tendo como proprietária a Companhia Agrícola União Industrial de Pernambuco, possuía capacidade para processar 500 toneladas de cana e fabricar 8.000 litros de álcool em 22 horas. Tinha 112 quilômetros de ferrovia, sete locomotivas e 118 vagões que se comunicavam com a Great Western. Na época da moagem, trabalhava na fábrica cerca de 213 operários somente na fabricação do açúcar. Para o operariado, ela mantinha uma farmácia e duas escolas com freqüência média anual de 90 alunos. Em 1961, ela foi comprada pelo engenheiro e industrial Luiz Dias Lins, neto do major Santos, e comandou a empresa até 1980, quando a usina passou a ser União e Indústria S/A. Finalmente, passou a ser comandada por Ilvo Monteiro Soares de Meirelles e sua esposa, Maria Carolina Bezerra de Meirelles, seus diretores executivos. A União e Indústria S/A com mais de cem anos de fundação passou por períodos de grandes dificuldades, porém depois de várias reformas conseguiu chegar a uma produção de 90.000 sacos de açúcar e 7.300.000 litros de álcool em 1995
A usina União e Indústria pertenceu a Amaraji até o ano de 1907, quando o coronel Santos Dias, seu proprietário, que também era prefeito de Escada, conseguiu que ela passasse a pertencer ao município de Escada.

PEDROZA - Suas atividades foram iniciadas em 1891. Localizada no, então, distrito de Cortês que pertencia a Amaraji, foi fundada por três genros e um filho do coronel Manoel Gomes da Cunha Pedroza, o Barão de Bonito: João de Siqueira Barbosa Arcoverde, Suiterbo Barbosa de Siqueira Arcoverde, José Belarmino Pereira de Melo e Antônio Parízio da Cunha Pedroza. Eles receberam uma concessão para construir a usina no engenho Flor da Ilha.
O nome da usina é uma homenagem ao coronel Manoel Gomes da Cunha Pedroza, que havia recebido o título de Barão de Bonito quatro anos antes da sua construção. Era a época da decadência dos engenhos bangüês que fabricavam açúcar bruto e aguardente e foram sendo substituídos pelas usinas que passaram a fabricar o açúcar cristal e o álcool.
Para administrar a usina foi criada a firma Arcoverde, Pereira e Parízio. A empresa funcionou bem até a morte do Barão de Bonito e o desligamento dos sócios João Siqueira Barbosa Arcoverde e Suiterbo Siqueira Barbosa Arcoverde em 1901. A usina ficou sob a gerência de José Piauhylino que a conduziu até o seu falecimento em 1906. Em 1910, a usina foi vendida para o coronel Arthur de Siqueira Cavalcanti e seu sócio Antônio Minervino de Moura Soares. O coronel Arthur de Siqueira Cavalcante foi o fundador da usina Caxangá em 1894 e era pai de Carlos de Lima Cavalcante que foi interventor federal do Estado. Em 1917, Antônio Minervino vendeu a sua parte, ficando o coronel Arthur Siqueira Cavalcanti como único proprietário até a sua morte aos 54 anos, em 1918. De 1918 a 1965 a usina foi dirigida por seus filhos e genros.  Em 1929, a usina possuía um grande número de propriedades agrícolas, com capacidade de produção de 70.000 toneladas de cana. Tinha uma via férrea de 34 quilômetros, cinco locomotivas e 110 carros e vagões. Possuía capacidade para processar 500 toneladas de cana e fabricar 4.000 litros de álcool e 22 horas de funcionamento. Na época da moagem trabalhavam na fábrica cerca de 200 operários. Nos anos de 1945 a 1955, havia na usina o Cine Pedroza, composto por 230 cadeiras, exibindo filmes às quartas-feiras e domingos. Nos filmes de Carlitos e do Gordo e o Magro o cinema ficava lotado. Em 1965, a usina foi vendida a um grupo composto por Severino Barbosa de Farias, seu filho Antônio Farias, Torquato de Castro, José Cordeiro de Castro, Leonardo do Monte, Rubem Monte e Aluízio Freire. Os novos donos acabaram com as estradas de ferro e locomotivas (transformados em ferro-velho), compraram tratores e caminhões e iniciaram a construção de estradas de rodagem. Com a morte do seu pai Severino Farias e o desligamento da empresa dos outros sócios, Antônio Farias passou a ser o único proprietário da usina, na qual fez grandes transformações tornando-a mais moderna. Substituiu todo o maquinário, construiu uma destilaria de álcool (25.000 litros/dia), silos e comprou propriedades.  De 1965 a 1982 a Usina Pedroza dobrou sua capacidade produção de cana e passou de 200.000 sacos de açúcar para 500.000. Em 1982, Antônio Farias tendo que administrar duas destilarias no Rio Grande do Norte, a usina Pedroza e um mandato de deputado federal por Pernambuco, passou a responsabilidade administrativa da usina para seu filho Eduardo Farias, que, juntamente com sua mãe Geralda Farias, são os atuais proprietários e administradores da usina Pedroza.

LIBERATO MARQUES - Localizada no município de Amaraji, teve sua fundação iniciada em 1921, pelo Dr. Liberato José Marques, filho do Coronel Liberato José Marques, engenheiro e proprietário dos engenhos Palmares, Bom Conselho, Riacho de Pedra, Prata e Vila Acioly. O Dr. Liberato Marques foi ajudado neste empreendimento pelo seu grande amigo e benfeitor, o senhor Henrique Marques de Holanda Cavalcanti, o Barão de Suassuna, que lhe forneceu algum maquinário e emprestou dinheiro para construção de sua usina. Porém, os débitos e as constantes crises das usinas de açúcar fizeram com que esta tivesse vida muito curta, moendo apenas duas safras. Ela foi desativada entre 1927-1928 antes da criação do IAA.


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

11 - A Primeira Infância e seu "Début" Católico

E a mini “ninha”, apesar de não crescer muito, continuava se desenvolvendo em graça e sabedoria. Aprendeu as primeiras letras em casa e, quando chegou ao Grupo Escolar, já estava alfabetizada. Também era muito envolvida com as atividades da igreja católica. Alguns anos antes, insistiu em participar da coroação apenas como anjo, mas chegou a passar mal com o cheiro das velas e a fumaça do turíbio. Ficou pálida, suando e quase "verte" no meio dos devotos. Foi um vexame.
Desta vez, mais amadurecida, tudo ia ser diferente.  Entre dezenas de candidatas, ela foi a escolhida para ser a estrela da coroação de Nossa Senhora no último dia de maio. A coroação foi uma beleza, tudo dentro do planejamento das assessoras da paróquia. Apesar de sair com uma das asas meio chamuscada, o incidente foi de conseqüências irrelevantes. As coleguinhas “aladas” acharam que ela tinha sido um sucesso. A igreja, apesar das chuvadas de maio, estava lotada. Todos queriam cumprimentar a pequena coroante. Recebeu dezenas de beijocas no rosto e, do jeito que ela tinha mania de higiene, a todo momento, passava o lenço nas bochechas, já meio irritada. O novo capítulo está no final da página e, os anteriores, logo em seguida.  

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

10 - "Festinha Legal" - O Baile que Não Aconteceu

As festas dançantes de Amaraji até o final da década de 1960 eram realizadas ao som de orquestras. A da usina Bom Fim, regida pelo maestro Basileu, a da usina Pedroza, ou o conjunto de Edmundo França, exímio saxofonista e clarinetista de Recife. Os festejos juninos eram exceção. Naqueles eventos,  trios de sanfona, triângulo e zabumba tocavam o xote e o baião, fazendo a alegria das comemorações de Santo Antônio, São João e São Pedro lá no prédio do mercado público antes da reforma. Ainda não se falava em forró. Os bailes da sociedade mais seleta, que, na década de 1930 e 1940, eram realizados no salão nobre da Prefeitura, atual Câmara de Vereadores, a partir de 1950, passaram a ser realizados no salão da Rádio Educadora A Voz de Amaraji, quando o prefeito Jorge Coelho inaugurou o prédio onde ainda hoje se lê em sua fachada: “Artes, Scientiae et Litterae”.
Nos anos sessenta, os Beatles, Bee Gees, Rolling Stones, Roberto Carlos, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys e muitos outros levavam suas vozes e o eco dos acordes das guitarras e a percussão das baterias aos quatro cantos do mundo e do Brasil. E aquele som moderno, que convidava para uma dança animada e eletrizante, influenciou muitos artistas e bandas da época.
O rock era o som do momento. A gente chamava de iê, iê, iê e o grupo que tocava não era banda e sim conjunto. E foi nessa onda de modernidade que eu e um grupo de amigos, Aline Costa Gomes, Dácio Cavalcanti, Semíramis Alves, Adailton Oliveira, Antônio Carlos dos Santos, Sônia Brito e Pedro Batista, decidimos fazer o primeiro baile de iê iê Iê em Amaraji, exatamente no dia 28 de outubro de 1967. A cidade, finalmente, iria sair do ritmos do fox, do swing e do bolero para entrar na época do iê, iê, Iê. O evento ia se chamar “Festinha Legal”, título tirado de um disco de vinil de Peter Thomas & The Spirituals. Festinha Legal era uma das faixas do disco muito rodadas nos “Hi-Fi” (hai-fai), dancinhas da jovem guarda nos finais de semana no salão da Rádio Educadora.
Tratei logo de contratar o conjunto “Os Vândalos”, grupo composto por meu primo Edmundo França Lima, além dos amigos Ricardo, Márcio e Menzo, todos residentes lá em Casa Forte no Recife. Cartazes espalhados pela cidade e colados nos coletivos intemunicipais, cartas enviadas para o programa Caixinha de Pedidos do comunicador Walter Lins, na Rádio Clube de Pernambuco, etc. O baile ia ser no prédio do Cine-Teatro Amaraji (atual agência do Banco do Brasil) com a sua tradicional rampa. A gente dançava descendo e subindo a rampa.
Na manhã do sábado, dia do baile, Sônia Brito, Dácio Cavalcanti, Semíramis Alves, Adailton Oliveira, Antônio Carlos dos Santos, Pedro Batista, (primo de Lúcia Fontes), alguns olheiros e eu, estávamos no salão do cinema. Até aquele momento, havia sido vendida apenas uma mesa para o baile. A professora Djalva Teixeira comprou, mas avisou que não ia poder participar. Não tínhamos dinheiro nem patrocínio. Era uma trabalheira: transportar as cadeiras do cinema para a parte de trás da tela, varrer e lavar o salão, improvisar uma decoração, pedir mesas emprestadas para usar no bar, etc. Na cidade, o assunto era a festa dos “cabeludos”. Cabelos compridos, calça justa, camisa colorida, isso era lá coisa de homem.
Dácio Cavalcanti era o encarregado do bar da festa. Teria de providenciar as bebidas e comprar 12 galinhas para o bar. Nas festas, os bares não serviam galetos nem bistecas, isso veio muito tempo depois, serviam “tira-gosto de galinha assada”. Aline Costa Gomes estava ausente naquele momento.
E a decoração do salão? O que dependurar naquele imenso telhado do prédio e como ornamentar as paredes. Houve, então, um verdadeiro derrame de idéias e slogans, que foram sendo escritos em letras garrafais e colados nas paredes do cinema: “Mandem os Velhos para o Vietnam e os Jovens para a Universidade”, Esta Cidade só Tem Gente Quadrada”, “O Povo de Amaraji é Pirangueiro”, “Frexeiras Devia se Chamar Flexeiras, pois é Terra de Índios”, e vários outros. Não se sabe de onde, apareceu um jornal com a foto de Che Guevara. Esta, foi recortada e colada numa parede com os dizeres “Viva Che Guevara” e “Vamos Vingar a Morte de Che Guevara”.
Lá pelas dez e meia, entraram em fila indiana e em polvorosa, as autoridades e líderes da cidade: o delegado Pedro Chaves, avô de Adailton, Albérico Batista, o prefeito, seu Raul Araújo, Vanildo Benigno, da Cooperativa, Luiz Andrade do engenho Animoso, Gumercindo Medeiros da coletoria, Herculano Fabrício, José Pequeno e o sargento Jacinto, um militar aposentado que vivia num sítio da cidade, entre outros. Algum dos “olheiros”, dentre os que entravam e saíam do cinema, foi avisar ao delegado que ia haver uma festa de comunistas no cinema. Aquilo era inadimissível na época da "revolução", um ano antes do Ato Institucional nº 5, emitido pelo governo militar.
- Mas o que é isso, perguntou pasmo e espantado o tenente Pedro Chaves? De quem foi a idéia de escrever esses absurdos?
- Fui eu, responde Antônio Carlos dos Santos.
- Mas não é possível, Toinho, logo você que fez um discurso tão democrático no desfile do Dia 7 de Setembro? Não estou acreditando.
E os ânimos se exaltaram, os comentários e críticas se sucederam. Falavam o prefeito e o delegado; seu Luiz de Animoso e seu Raul criticavam; Gumercindo, Herculano e Zé Pequeno, bastante chocados. O sargento Jacinto tomou a palavra e tentou convencer às autoridades que aquilo era uma brincadeira do grupo. Disse que todos eram filhos de pessoas de bem da cidade e não tinham nada de comunista, ou coisa parecida. Mas de nada adiantou. A festa estava acabada. Fomos aconselhados a fazer o baile em outra ocasião.
Fechamos o cinema e cada um retornou para suas casas. Seu Raul mandou que eu fosse a Recife cancelar o contrato e lá foi eu de rural willys azul e branca, conduzido por seu Silvestre, que não deu uma palavra em todo o percurso de ida e volta. Por sorte, os Vândalos conseguiram tocar numa festa de aniversário naquele sábado à noite e o prejuízo deles não foi total.
À noite, fui à igreja assistir a missa. A multidão no entorno do pé-do-santo (ao redor da imagem do São José da praça) era grande. Passei discretamente pelo local e vi todos os olhos e cochichados em minha direção, e mais de uma vez escutei a palavra comunista.
Terminada a missa, o prefeito me chamou e perguntou pela festa. Disse que não era para ter cancelado, bastava mudar a decoração, e retirar os cartazes. Mas o mal já estava feito.
Dácio Cavalcanti havia comprado doze galinhas e, para o prejuízo não ser maior, conseguiu vender algumas. Os compradores foram: Amaro Graciano (Gode); seu Mota, do Bar dos Motoristas; Albérico Batista, o prefeito; Valdo Moraes, da padaria, e Arinaldo Crispim, técnico da ANCARPE local. Eu fui devolver à professora Djalva Teixeira o dinheiro da mesa reservada, mas ela não aceitou.
O evento não aconteceu, mas, em 1987, fizemos a festa dos “20 Anos Depois”, no Clube dos Tamarindos, animada pelo grupo Skorpios. Em 2002, no dia 7 de dezembro, mais uma vez outra comemoração, com o baile “35 Anos Depois” animado pelo grupo Siboney. Para o ano que vem a idéia dos “45 Anos Depois” já começa a vingar.

domingo, 13 de novembro de 2011

9 - O Batizado da Borboleta

E continua a história da Borboleta. Ainda faltava muito tempo para ela se apresentar no pastoril. Afinal, era só uma garotinha de seis meses que estava se batizando naquele mês de abril.
Cidades do interior, quase todas eram iguais: os mesmos acontecimentos do dia a dia, o padre, a religião e as comemorações da igreja, o comércio local, o acesso difícil à capital, as informações trazidas pelos poucos rádios ali existentes e, um ou outro jornal ou revista, trazidos pelo motorista da sopa (o único ônibus da cidade) ou por algum passageiro do trenzinho, puxado por uma locomotiva ‘Maria Fumaça" que fazia o percurso Frexeiras, usina Bonfim, Primavera até Amaraji.
O batizado da menina foi o acontecimento social da época e, durante muito tempo, o assunto das conversas da sociedade. Vejam, no final da página, o segundo capítulo da história e, em seguida, o primeiro para quem ainda não leu.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

8 - Davino dos Santos Pontual Júnior - Prefeitos de Amaraji (2)

Davino dos Santos Pontual Júnior nasceu no dia 13 de outubro de 1864. Era filho do Coronel Davino dos Santos Pontual e de dona Feliciana Teresa Dias Pontual, proprietários do engenho Amora. O coronel Davino Pontual vinha de uma família de 16 irmãos, muitos deles, proprietários de engenhos e usinas em Escada e Amaraji. Entre seus irmãos estavam: Antônio dos Santos Pontual, Barão de Frexeiras, Bernardino de Sena Pontual, Barão de Petrolina e Francisco da Rocha Pontual, o primeiro prefeito eleito de Amaraji. O casal, além de Davino Júnior, teve mais sete filhos: Ana, Filonila, Francisca, Inácio, Manoel, Maria Adelaide e Teresa. Davino Pontual Filho formou-se pela Faculdade de Direito de Recife em 1886.
Ele que fora eleito deputado estadual em 1887, foi constituinte em 1889, quando foi promulgada a primeira Constituição de Pernambuco no início da República Velha. Foi eleito para o conselho municipal de Amaraji, na eleição que escolheu o primeiro prefeito municipal após sua emancipação política. Também foi prefeito do município. Em 1924 foi eleito e reeleito senador do Senado Estadual de Pernambuco e, em 1929, ocupou a 1ª vice-presidência daquela casa.
No final do século XIX, em decorrência da morte de seu tio e sogro, João Manuel dos Santos Pontual, assumiu a usina Cabeça de Negro, uma indústria localizada no centro da melhor zona açucareira do estado de Pernambuco, compreendida nos municípios de Amaraji e Escada. 
Grande defensor da lavoura canavieira, em 1920 comprou a usina Bamburral ao comendador José Pereira de Araújo. A propriedade compreendia nove engenhos, o parque industrial havia sido reformado e nele fora instalado um maquinário moderno. Dr. Davino Pontual, já bastante conhecido na indústria açucareira por sua defesa dos plantadores de cana, tornou-se também um grande criador de cavalos de raça.
Ele tinha um haras com reprodutores de puro-sangue no engenho Boa Vista. Os cruzamentos efetuados no haras deram excelente resultados, como prova a medalha de ouro recebida na Exposição de Pernambuco, em 1908, com os seguintes dizeres: "Sociedade Animadora da Criação de Cavalos em Pernambuco. Prêmio de honra concedido a Gibanete”, o animal vencedor do certame. Davino Pontual obteve duas medalhas de ouro na Exposição Universal de Turim em 1911, para os produtos que aí expôs.

Davino Pontual Júnior foi casado com sua prima, Teresa da Silveira Pontual, e tiveram os seguintes filhos: Antônio Cláudio da Silveira Pontual; Judite Teresa Pontual Sampaio, casada com Artur Rodrigues Sampaio; Davino da Silveira Pontual, casado com Anita Mac Dowell Pontual; Máximo Dias da Silveira Pontual; Maria Antônia Pontual de Lemos, casada com Carlos Pinto de Lemos; Maria de Lourdes da Silveira Pontual, religiosa; Maria Cordulina da Silveira Pontual; José Augusto da Silveira Pontual, casado com Maria Cristina Lício Marques Pontual; Maria do Rosário Pontual Machado, casada com Pedro Pontual Machado e José Expedito da Silveira Pontual. Ele morava na casa grande da usina Cabeça de Negro, de onde dirigia suas empresas. Dr. Davino Pontual faleceu no ano de 1933.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

7 - Amaraji e Escada Disputando a Usina Bonfim em 1908

O distrito de Amaraji, que até 1891 pertencia ao município de Escada, naquele ano, foi desmembrado e tornou-se autônomo. Deste desmembramento, resultou ficar o engenho Aurora pertencendo ao novo município e o engenho Bonfim, continuar parte do território de Escada. A ilha em que se encontra a usina União Indústria, denominada de ilha de Primavera, sempre fez parte do engenho Aurora e, por conseguinte, do município de Amaraji.
Até a edificação da usina, aquela ilha servia com “solta para pastagem do gado do engenho Aurora”. Em 1904, o Decreto assinado Pelo bispo diocesano Dom Luiz Raimundo da Silva Brito, criando a freguesia de Amaraji, determinara que a nova paróquia “tivesse os mesmo limites” do município criado em 1891. Naquela época, os habitantes da ilha eram eclesiasticamente sujeitos à freguesia de São José do Amaraji, além de serem eleitores da comarca de Amaraji e não a de Escada.
Entre 1894 e 1995, o major da guarda nacional, Manoel Antônio dos Santos Dias, proprietário da usina Santa Filonila no engenho Jundiá em Escada, edificou, naquela ilha, a usina União e Indústria. Primeiramente, ela recebeu o nome de Santa Filonila, depois Bom Fim, Santos Dias e por fim União e Indústria. A fábrica foi incrementada com a instalação do maquinário trazido da antiga usina Santa Filonila, também conhecida por usina Jundiá, que havia sido desativada. Sua primeira moagem foi em 1895.
Em 1908, surge forte animosidade entre os chefes políticos dos dois municípios. De um lado, o coronel Liberato José Marques, prefeito de Amaraji, e do outro, o coronel Manoel Antônio dos Santos Dias, prefeito de Escada e proprietário da usina União e Indústria. O coronel Santos Dias, que desfrutava de grande prestígio junto a Assembléia Legislativa do Estado e, sendo compadre e amigo do governador Herculano Bandeira de Melo, fez valer sua amizade perante àquelas autoridades, conseguindo passar para Escada, a vila de Primavera e a usina União e Indústria.  Em 1913, no governo de Estácio de Albuquerque Coimbra, reparou em parte, essa injustiça, com a volta da vila de Primavera para Amaraji.
No início do século passado, Amaraji era um município de grande extensão territorial. Sua área contava com o distrito sede, a vila de Primavera com o povoado de Pedra Branca, a vila de Cortês, o distrito de Aripibu e o povoado de Demarcação.
No município existiam cinco usinas. Bamburral, fundada em 1889, pelo coronel José Pereira de Araújo; usina Bosque, fundada no final da década de 1890 por João Manuel dos Santos Pontual e seu filho; usina Cabeça de Negro, também fundada em 1887 por João Manuel dos Santos Pontual; usina Aripibu, fundada por Leocádio Alves Pontual em 1888 e a usina Pedroza, fundada em 1891, por três genros e um filho do coronel Manoel Gomes da Cunha Pedroza, o barão de Bonito.
Nos anos de 1949 e 1950, o deputado Luiz Magalhães Melo apresentou, na Assembléia Legislativa do Estado, um projeto reivindicando a ilha de Primavera para Amaraji. O art. Nº 2 do projeto propunha que o município de Amaraji convidasse o de Escada, para que, mediante acordo direto, fosse apresentada uma solução definitiva para o impasse territorial, tomando por base os limites fixados em 1891. Havendo recusa, ou não sendo possível o acordo, Amaraji pleitearia seu direito perante o Poder Judiciário.
Além disso, o projeto apresentou, entre outras, as alegações que a usina ficava mais próximo de Amaraji, com a qual se achava em permanente comunicação por meio de rede telefônica e estrada de ferro próprias.
O município, além da injustiça sofrida em 1908, não mais possuía as usinas Bamburral, Bosque e Cabeça de Negro que haviam sido desativadas, Aripibu anexada ao município de Ribeirão, quando da criação do município, ficando apenas com a usina Pedroza.
Ressaltava ainda que os encargos de Amaraji comparados aos de Escada eram bem mais pesados. Amaraji, isolada, quase sem via de comunicação com a capital e municípios vizinhos, tinha a seu cargo duas vilas importantes, Cortês e Caracituba, para cuidar. Escada possuía cinco usinas: Timbó-Assu, Massauassu, Mameluco ou Barão de Suassuna, Sibéria e União e Indústria, além de uma grande fábrica de tecidos, a Pirapama, que valia a própria ressurreição da cidade, sem contar que não possuía nenhuma vila para cuidar. Os projetos de nº 462 de 1949 e 113 de 1950 não “vingaram” e os limites continuaram os mesmos.
Na década de 1920, o coronel Liberato Marques construiu a usina que levou o seu nome, mas esta, só sobreviveu duas moagens. Em 1953, Cortês emancipou-se de Amaraji e a usina Pedroza passou a integrar a área territorial do novo município.
Com tantas perdas, dá até pra refletir sobre a imprecação do “frei missionário” lá na plataforma da estação do trem de Amaraji no começo do século passado.
De qualquer forma, foram-se as usinas, mas ficaram os
"Canaviais qual fita que te encerra
São as molduras que vem destacar
Tua beleza oh! Querida terra
Seja o sol seja luz prata do luar."

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

6 - A história da Borboleta que Dançou de Mestra

Vamos dar um descanso ao barão e à aristocracia e falar sobre uma menina que nasceu lá na província. Talentosa, inteligente, sabia cantar e dançar e era o personagem perfeito para fazer parte de um pastoril, apresentação do folclore brasileiro, muito popular nas festas de final do ano nas décadas passadas. Cada paróquia organizava o seu. E as torcidas se organizavam e gritavam, quase com histeria, os nomes de suas cores preferidas, azul ou encarnado, enquanto as pastorinhas cantavam, dançavam e tocavam seus pandeiros de forma sincronizada.
Mas esta garota de que vamos falar, não apareceu somente no pastoril. Vale a pena começar a contar suas peripécias desde o nascimento.
Ela começou a se destacar nos testes para participar do pastoril, entretanto, apesar do talento e da voz afinadíssima, era de estatura muito pequena e as organizadoras do evento, na época, dona Sônia Dantas, Salete Moraes e Dasdores Teixeira achavam que o personagem perfeito para ela, seria o da “borboleta”. E, quando lhe comunicaram o fato, ela arregalou os olhos, apontou o dedo para as senhoras, olhou em volta e falou num tom firme e decidido, quase gritando: “nada disso, borboleta coisa nenhuma, se eu não for a mestra, não danço”. E sem esperar resposta, apanhou o pequeno chale de lã e caminhou em direção à saída do salão paroquial. As senhoras entreolharam-se e ficaram sem saber o que dizer. E agora, será que a menina iria mesmo ser a mestra, ficar dando pulinhos e balançando as asinhas em volta das outras pastoras. A gente vai saber acompanhando os capítulos da história. Divirtam-se. Eu estou me divertindo. O primeiro capítulo está no final da página.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

5 - Dr. Plínio Alves de Araújo - Prefeitos de Amaraji (1)

Plínio Alves de Araújo nasceu no dia 23 de dezembro de 1893 no engenho Amaraji d´Água. Era filho de Antônio Alves de Araújo, o “Cadete” e Maria Salomé de Araújo. Seus irmãos eram Ivo, Célia, Áurea, Helena e Antônio Filho e seus avós paternos, Antônio Alves da Silva e Antônia Alves de Araújo, barão e baronesa de Amaraji.
Viveu toda a sua infância no engenho com seus irmãos, além de conviver com vários primos de engenhos vizinhos. Até a idade de 10 anos desfrutou também da presença de sua avó baronesa que viveu até o ano de 1903 e que dividia o tempo, juntamente com seus familiares, entre a casa grande do engenho e sua residência da Rua Sete de Setembro em Recife.
Os engenhos bangüês daquela época proporcionavam inúmeras distrações para os filhos dos senhores de engenho. Datas religiosas e sociais eram comemoradas com muito entusiasmo pelas pessoas da época. Além do que, seu avô, o barão, costuma oferecer recepções e promover encontros aos senhores de engenhos vizinhos, vários dos quais seus parentes, bem como a convidados de Recife, que se deslocavam da capital para o engenho. Seu pai que havia se diplomado em direito pela Faculdade do Recife, juntamente com sua avó, a baronesa, preservaram o costume de manter o mesmo estilo de vida social do barão.
O jovem Plínio aprendeu as primeiras letras no próprio engenho. Na época, os filhos dos proprietários como alguns filhos de trabalhadores freqüentavam a escola existente na propriedade que era mantida pelo senhor de engenho. Sua primeira professora foi dona Maria Paes Barreto, da qual ele sempre guardou boas recordações. Algum tempo depois ela foi substituída pelo ex-seminarista Joaquim Manoel dos Santos.          
Em 1907, deu prosseguimento a seus estudos na cidade de Carpina, na época chamada de Floresta dos Leões, juntamente com seu irmão Ivo Araújo e alguns primos. Lá ele estudou no Colégio Chateaubriand, que tinha como educador o francês Dr. Charles Koury. Naquela instituição fez o curso preparatório e permaneceu no colégio por dois anos. De acordo com seu pensamento, naquele período, as mudanças e transição abriam as portas para uma psicologia pronta para encarar a vida de uma forma mais madura.
Em 1910, aos 17 anos, partiu para São Paulo a fim de freqüentar o curso superior de agronomia na reconhecida Escola de Piracicaba. Fez o exame de admissão e foi aprovado. Cursou aquela instituição até o terceiro ano. Atendendo uma solicitação de Antônio Paulino, amigo de seu pai e diretor da Escola Superior de Ciências Agrícolas de Recife – ESAP retornou a Pernambuco e matriculando-se naquela instituição de ensino superior, a fim de concluir o último ano do curso. Ele e mais seis estudantes fizeram parte da primeira turma de agrônomos da ESAP. Por solicitação de seus colegas de curso, foi designado orador da turma. Seu discurso foi brilhante, surpreendendo os convidados e autoridades presentes, inclusive o Governador do Estado na época, general Emídio Dantas Barreto. Em dezembro do mesmo ano, foi nomeado pelo governo, para o cargo de inspetor federal agrícola do estado. Esta foi sua primeira função pública. Paralelo a isso, exerceu também o cargo de delegado do Serviço Federal do Algodão em Sergipe e no Rio Grande do Norte. Durante seis anos foi funcionário do Ministério da Agricultura. Após afastar-se de suas atividades no ministério, continuou exercendo suas atividades de agrônomo, e prestando e prestando assistência a empresas particulares até 1931.
Nesse período, retorna para Amaraji para foi exercer suas atividades de agricultor no engenho Beija-Flor, recebido de herança da família. No dia 15 de agosto 1936 iniciou sua vida política, quando foi nomeado prefeito de Amaraji pelo então interventor federal no estado de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti, natural de Amaraji. Ficou à frente da prefeitura até 27 de julho de 1937, quando João Florentino de Melo assumiu a prefeitura como prefeito eleito. Foi nomeado novamente para o cargo de prefeito em 16 de maio de 1938 pelo interventor federal Agamenon Sérgio do Godoy Magalhães. Governou o município durante todo o período do “Estado Novo” instituído pelo presidente Getúlio Dornelas Vargas, até 22 de novembro de 1945. No dia 21 de fevereiro de 1946, através do ato nº 513, foi designado pelo interventor federal no estado, José Domingues da Silva, para dirigir o Departamento de Assistência às Cooperativas – DAC, órgão ligado à Secretaria de Indústria e Comércio do estado. Permaneceu naquele órgão durante as gestões dos interventores estaduais Demerval Peixoto e Amaro Gomes Pedrosa. Após esse período regressou ao engenho Beija-Flor para dar continuidade às atividades agrícolas e prestar maior assistência à sua propriedade. Em 1959, retornou mais uma vez à política. Candidatou-se e venceu a campanha para prefeito de Amaraji, governando o município durante quatro anos.
Nos três períodos em que esteve à frente do executivo municipal, manteve sempre como prioridade, a educação e a saúde pública. Num de seus mandatos foi implantado, no município, o primeiro serviço médico e dentário, incluindo um posto de saúde na cidade. Posteriormente foi fundada uma casa de partos, na qual as mulheres que davam à luz permaneciam em repouso, recebendo a assistência médica necessária e o recém-nascido era presenteado com um enxoval e uma certidão de nascimento. Foi criado também o serviço dentário escolar, com profissionais altamente capacitados, que possibilitavam às crianças um tratamento dentário bastante eficiente.     
Foi casado com Frederica Faneca de Araújo com quem teve quatro filhos: Mirca, Déa, Célia e Plínio Filho. Este enlace durou vários anos, não se sabem exatamente quantos. Ao término este casamento, ocorreu uma união com Joana Ferreira de Araújo, relação esta que deu origem a mais quatro filhos: Marcos, Jânio, Maria do Socorro e Célia. Posteriormente, o casal adotou uma menina, filha de um sobrinho de Joana Ferreira, chamada Évelyn Gleice. Plínio Araújo viveu até o fim de seus dias ao lado de Joana Ferreira.
No dia 2 de abril de 1985, com 91 anos de idade, Plínio Alves de Araújo veio a falecer em decorrência de problemas cardíacos.
Amaraji prestou várias homenagens a um de seus filhos mais ilustres. A Câmara Municipal passou a chamar-se Casa Plínio Alves de Araújo. Na Rua 15 de Novembro foi inaugurado um Centro Social com o seu nome e, no assentamento do engenho Riachão do Norte, o mesmo nome foi dado à escola municipal da comunidade.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

4 - Antônio Alves de Araújo "Antônio Cadete"


No dia 27 de janeiro de 1869, no Engenho Raiz de Fora, nascia Antônio Alves de Araújo, filho de Antônio Alves da Silva e Antônia Alves de Araújo, barão e baronesa de Amaraji. Diplomou-se em direito pela Faculdade de Recife e fez parte da geração acadêmica que muito trabalhou para a abolição da escravatura e pela propaganda da república. Também era membro da Guarda Nacional, com a graduação de tenente-coronel comandante do 30ª batalhão de infantaria de Amaraji.
Toda sua existência foi devotada à atividade rural. Ainda estudante de direito, assumiu a direção das atividades agrícolas do engenho Amaraji juntamente com a sua mãe, a baronesa de Amaraji, que havia enviuvado. Recebeu do imperador Pedro II a patente de "Cadete" em virtude de haver doado, juntamente com seu pai, a quantia de vinte mil réis para a guerra do Paraguai.  Como agricultor, foi um dos expoentes de sua classe, sempre trabalhando para o desenvolvimento e progresso da lavoura e criação de gado. Fez parte da Sociedade Auxiliadora da Agricultura, a mais antiga associação agrícola do Brasil, sendo por um período eleito seu presidente. Como representante da lavoura canavieira do estado, tomou parte na comissão que foi ao Rio de Janeiro em 1908 representar Pernambuco no Congresso Agrícola Brasileiro.
Foi casado com Maria Salomé, filha de Joaquim Correia de Oliveira, deixando os seguintes filhos: Plínio Alves de Araújo, engenheiro agrônomo; Ivo Alves de Araújo; Célia Alves de Araújo; Áurea Alves de Araújo; Helena Alves de Araújo Antônio Alves de Araújo Filho. Faleceu no ano de 1958 e seus restos mortais estão depositados no jazigo da família na capela do engenho Amaraji.
Em 1976 o Governo do Estado construiu uma escola de 1º grau em Amaraji e deu ao novo estabelecimento de ensino o nome de Antônio Alves de Araújo.

domingo, 23 de outubro de 2011

3 - O Barão de Amaraji (2)

Certa vez, chegou ao conhecimento do barão que um lavrador vizinho, conhecido por seu temperamento desapontador, havia concedido carta de liberdade a duas filhas pequenas de uma estimada mucama da casa grande. Isso era coisa muito comum na época, mas de se espantar nesse caso, por se tratar do senhor de engenho vizinho, conhecido por sua avareza.
A benesse, entretanto, durou pouco. Com a morte da mucama anos depois, ele tornou sem efeito as prerrogativas das duas cartas de liberdade, trazendo de volta à escravidão as duas pequenas libertas. Sabendo do sucedido, o barão de Amaraji, contratou um advogado. Dr. Feitosa, para fazer a defesa das menores já alforriadas. Essa questão, baseada no art. 179 do antigo Código Criminal, levou tempo e custou uma boa soma. A ação chegou à Suprema Corte que deliberou reconhecer o direito das menores, libertando-as. O barão custeou todas as despesas, até a viagem e estadia do advogado no Rio de Janeiro, que foi acompanhar e defender a apelação.
Durante a guerra do Paraguai, no auge da luta, com os cofres da nação ficando vazios, pelos gastos excessivos do imperador Pedro I e a negligência de seu filho Pedro II, o barão fez uma doação, como contribuição de guerra, de vinte contos de reis. Como retribuição, o imperador concedeu a patente de “cadete” ao seu filho mais velho, Antônio Alves de Araújo.
Seu prestígio na região era muito grande. Uma de suas filhas, Maria José Alves de Araújo, casou com Antônio Epaminondas de Barros Correia, o barão de Contendas. A outra, Davina Alves de Araújo, com Dr. José Domingues da Silva, jurista formado pela faculdade de direito de Recife e proprietário do engenho Raiz de Fora.
No livro “História de uma Fotografia”, Gileno de Carli conta que o barão fez uma viagem a Portugal com a baronesa e o filho Antônio Alves, ainda pequeno. Quando se preparavam para regressar ao Brasil, o barão morreu. A esposa, que não queria deixar o corpo do marido enterrado numa terra estranha, tentou trazer o corpo embalsamado de navio, mas a legislação da época proibia o embarque de cadáveres, mesmo no formol. Então ela teve a idéia de trazer o caixão acondicionado numa caixa de piano. O plano deu certo. No desembarque em Recife, quando a “caixa do piano” ia sendo içada numa rede do navio para o barco que a levaria ao cais, o pequeno cadete grita: “Cuidado com meu pai!”, momento em que a baronesa vira-se pra ele e repreende: “Cala a boca, menino!” E assim o corpo chegou a Pernambuco e foi sepultado na capela do engenho Amaraji. O barão morreu no dia 12 de julho de 1873.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

2 - O Barão de Amaraji


Antônio Alves da Silva nasceu no dia 29 de maio de 1807. Era filho de Manoel Alves da Silva, senhor de engenho de Amaraji d´Água. Casou-se com Antônia Alves de Araújo, nascida em 1836, irmã do comendador José Pereira se Araújo. O casal teve seis filhos: Davina, Maria José, Francisca, Flora, Antônio e Júlio.
Antônio Alves era bem diferente de seu pai. Mesmo não tendo formação acadêmica, era bem mais requintado e urbano, dividindo seu tempo entre a casa do engenho Amaraji e o palacete da Rua Sete de Setembro, em Recife. Foi ele quem construiu a casa grande que existe até hoje existe na propriedade. A anterior, seguia o mesmo padrão dos casarões tradicionais dos séculos XVIII e XIX. Pensando na formação dos filhos e sobrinhos, teve o cuidado de trazer um padre de Portugal para educá-los. O religioso ocupava o melhor quarto da casa e dava aulas aos “ioiôs” e “iaiás” da família, segundo conta Manoel Lubambo. Ele também organizava muitas procissões, missas dominicais, novenas, rosários, etc. Aos sábados, dava aula de catecismo aos escravos, os quais também participavam ativamente de todos os atos religiosos.
O futuro barão tinha amigos de todas as classes sociais e a casa do engenho Amaraji era conhecida pelas festas que ele proporcionava. Os convidados eram os senhores de engenhos vizinhos, muitos seus aparentados, artistas, nobres e os amigos que moravam em Recife, entre eles, o comendador Manoel Figueiroa de Faria, proprietário do Diário de Pernambuco.
Antônio Alves da Silva foi agraciado com o título de Barão de Amaraji, pelo Decreto imperial de 29 de dezembro de 1867.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

1 - Os Descobridores de Amaraji


No início do século XIX, Manoel Alves da Silva, um português de Trás-os-Montes, antiga província de Portugal, chegou a Pernambuco acompanhado de seus familiares. Estabeleceu-se no engenho Aripibu, em Escada, na qualidade de rendeiro. Ali, ele se dedicou ao cultivo da cana e criação de gado. Conseguiu economizar muitas moedas de ouro para comprar, à vista, uma grande área, coberta de matas virgens, cortada pelo rio Amaraji, no Quarto Distrito da Paz da freguesia de Nossa Senhora da Escada. Naquela imensa área, foi fundado o engenho Amaraji e dele, desmembrados, os engenhos Autonomista, Garra, Tapuia e Raiz de Fora, todos da família.
Naquela época, além do cultivo da cana-de-açúcar, da mandioca e da banana, outra atividade da região era a exploração da madeira. As árvores  eram cortadas e as toras lançadas no rio Amaraji que se encarregava de transportá-las com suas águas caudalosas. Seguiam pelo rio Sirinhaém e chegavam até o mar.
Em 1837, o português Manoel Alves da Silva já havia construído no engenho, uma pequena e rústica capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Lá, existia também uma casa de farinha.  Com muita garra, autoridade, tenacidade, o trabalho de dezenas de escravos e a produção do engenho bangüê, ele teve sua fortuna aumentada. Era um homem rústico, comparado por um pesquisador a um "boi-cambão". Seu programa de administração era: DEUS, ESCRAVIDÃO, TRABALHO E TRONCO. Deixou uma grande fortuna para seus descendentes.
Manoel Alves da Silva foi pai de vários filhos, entre eles, Antônio Alves da Silva, o Barão de Amaraji.